Saturday, December 30, 2006

Dia 26 - Sao José dos Campos, SP - 1.888km (47)

E aí, Galera

Este teclado nao possui til nem acento circunflexo, entao nao estranhem a ausencia deles.

Saindo da LAN, ainda passei em uma lanchonete a caminho do hotel, onde comi uma fatia de torta e um suco de açaí extremamente gelado, que beleza. Cheguei no quarto totalmente estufado e satisfeito, e fui dormir por volta de onze da noite, com o ventilador ligado no modo "circulaçao" (soprando para cima). Os operários obviamente foram dormir mais cedo que isso, e o hotel estava bastante silencioso.

Acordei me sentido bem, fui tomar o café da manha em ritmo lento, e depois voltei pra cama. O Dorival me ligou às dez horas, e eu combinei com ele de chegar para o almoço, causando espanto pela média horária implícita na proposta (já eram dez horas e seriam uns 45km). Terminei rapidamente de me arrumar e saí por volta das dez e vinte. A saída da cidade é costeando o rio, onde pude ver uma passarelazinha que conduzia a duas pontes penseis, bastante bucólico, e ainda por cima o rio naquele ponto apresentava uma certa corredeira que dava um efeito sonoro bastante tranquilizador, que lindo!
Peguei a estrada lá adiante, e foi aquela sucessao de sobe e desce suaves por uns vinte quilometros até chegar em Jacareí. No meio do caminho, houve placas indicando a Via Dutra, que eu deveria tomar mais cedo ou mais tarde, mas o que eu tinha visto no mapa e o que o GPS indicavam é que eu deveria cruzar Jacareí mesmo. Ao chegar dentro da cidade e pedir informaçao, me indicaram pegar uma avenida tal, que era a maneira mais rápida de chegar na Dutra, sem correr o risco de me embananar no centro. Lá fui eu, estranhando que a avenida seguia quase no sentido oposto ao que eu vinha seguindo. Decepçao redobrada ao ver que a dutra seguia novamente em uma direçao quase oposta àquela, de modo que ficou aquele "Z" claramente desenhado na tela do GPS, o que poderia perfeitamente ter sido evitado se eu cruzasse o centro da cidade, ou tivesse tomado o caminho para a Dutra alguns quilometros atrás. O fato é que, daquele jeito, ficaria difícil de chegar antes do meio-dia lá no Dorival.
No trecho da Dutra em frente a Jacareí, razoavelmente plano, consegui andar por algum tempo acima de trinta por hora, mas logo o vento ficou meio contra, e à medida que me aproximava de Sao José dos Campos, a pista ficava cada vez mais ondulada. O fato é que cheguei ao trevo de acesso ao bairro Vista Verde (onde por sinal fica também a fábrica da Pro Shock, que pretendo visitar na terça), e o Dorival, ao contrário do combinado, nao estava lá me esperando. Liguei pra casa dele, e atendeu o filho, dizendo que ele já tinha saído de bicicleta. Voltando ao tal trevo, lá estava ele, sorridente, já tendo entendido que eu havia chegado antes dele. Fomos à casa dele, onde pude entao conhecer sua simpática esposa Sonia, tomar refrigerante, tomar banho, colocar roupa limpa, almoçar, conversar bastante, ver a bicicleta dele, uma Caloi City Tour (finalmente a indústria nacional resolveu montar uma bicicleta voltada ao Trekking/Touring, e foi bastante feliz nisso). Na hora da sesta, fiquei assistindo filme em companhia da Lila, uma micro-poodle-toy minúscula que eles tem, com pelo bem branquinho, e muito calma, apesar de brincalhona e irriquieta (calma no sentido de nao ficar latindo histericamente como os poodles costumam fazer).



Mais tarde, fomos a uma loja chamada Gamaia, que é tipo um magazine esportivo onde tem algumas bicicletas e acessórios. Coisas boas, como Kona, Scott, etc. Meio fraquinha de peças, mas enfim, tem de tudo um pouco. Em seguida, veio o café e a janta (simultaneos), e agora estou aqui, já repousado pelo dia sem pedal (ao menos metade dele), e pela brisa fresca de cima da serra, depois da chuva. E era isso.

Friday, December 29, 2006

Dia 25 - Guararema, SP - 1.841km (78)

"Nossos ídolos ainda são os mesmos..."

De fato, o especial com a Elis Regina não decepcionou, foi uma beleza. Ainda mais por ter várias cenas dela própria (e não da atriz que arranjaram para representá-la, que até que participou pouco). A Fernanda Lima, se não se destacou (nem deveria, não era sobre ela o especial), não estragou nada. Antes de ir assistir o especial, saindo da LAN, fui a um restaurante de comida supostamente mineira, onde finalmente jantei de forma digna, comendo feijão, arroz, carne com batata, salada, farofa, e refrigerante. Apesar do papo furado do dono, dizendo que lá a comida era mineira mesmo, gostosa, etc., tive de pedir reforço no feijão, já que a cumbuca que nem era muito grande veio pela metade, hehe.
Ao sair de lá, vi que a chave não estava no bolso onde eu a havia colocado. Rapidamente notei que não estava nos outros bolsos, também. Enquanto dava meia-volta para começar a procurar no restaurante, coloquei a mão no bolso de trás e percorri a costura com a ponta dos dedos, os quais escaparam junto com a mão quase inteira, por um enorme buraco. Obviamente, a chave já tinha caído há muito tempo, em qualquer lugar, provavelmente na rua. Voltei ao hotel, e a dona até nem se espantou muito com a perda da chave, providenciando logo outra, reserva, que para a surpresa dela (e minha), não funcionou. Sorte que eu havia deixado a janela (que dava para o corredor) aberta, o que me permitiu entrar no quarto. Disse ela que arranjaria um chaveiro logo pela manhã, para que eu pudesse sair com a bicicleta. Assisti o especial ("minha dor é perceber/que apesar de termos feito..."), mas antes de dormir tomei outro banho gelado, e deitei com o corpo levemente úmido, sem roupa e sem lençol e sem nada, com o ventilador diretamente em cima de mim ligado no máximo. Ainda assim, tive de acordar uma hora depois para tomar outro banho gelado. Antes do amanhecer, solucionei parcialmente essa angústia dando meia-volta sobre a cama, deixando o tórax sob o ventilador, onde antes estavam as pernas.

Acordei sem pressa (eles não ofereciam café da manhã), e fiquei enrolando até dez e meia, na cama, descansando bem. Arrumei minhas coisas, e como era certo que aconteceria, tive de pedir ajuda para defenestrar minha bicicleta, por uma janelinha que não tinha nem dois palmos de largura, coisa que foi até mais simples do que parecia. Fui, depois de me despedir da moça que atendia lá, muito simpática, até o restaurante mineiro, e um dos guris que atendia lá disse que só teriam comida dali a uma hora. Só que já eram 11:20! Pelo jeito, meio-dia não significa nada pra eles, do ponto de vista alimentar. Atravessei a rua e comi lá um prato-feito que, se não era uma iguaria, também não era ruim, e não consegui comer ele inteiro. Saí a pedalar meio-dia e doze, sob um sol aberto, mas não muito quente.
Na véspera, eu havia decidido abortar a viagem pela Rio-Santos, e seguir para São José dos Campos via Mogi das Cruzes, subindo a serra, pois sabia que a viagem pelo litoral significaria calor, subidas e descidas constantes, movimento na estrada, movimento nas cidades, preços extorsivos, lotação esgotada... Foi uma boa escolha. Nos primeiros nove quilômetros, perdi a conta de quantos carros ultrapassei, pois o engarrafamento na estrada estava longo, muito longo. Ao entrar na estrada Mogi-Bertioga, apesar de não haver engarrafamento com carros parados, o fluxo de veículos descendo a serra era constante. Após uns 5km nessa estrada, começou o trecho de subida, que logo virou trecho de subida e neblina, e logo subida e chuva. Fui me arrastando lentamente, olhando para os motoristas descendo na outra pista, eles olhando para mim, as luvas fedendo a suor azedo a cada vez que eu enxugava as gotas da testa e do bigode (até que lavei as luvas e o rosto na água que escorria pela calha da beira da pista). A estrada tem duas pistas para subir, mas não tem acostamento, e eu ia me equilibrando na linha branca, rezando para que aparecesse um caminhão bem lento (não apareceu), sentindo a camisa gelada grudando na barriga quando o vento dava uma soprada. A neblina, o cansaço e o movimento na pista contrária (convenhamos, também o manjado da cena) me levaram a passar reto por um mirante que dava vista a uma cachoeira que descia pela encosta do morro oposto à encosta da estrada. Destaque também para as cercas de alambrado que rodeavam qualquer coisa que se parecesse com uma cachoeira na beira da pista, provavelmente para impedir a pouquíssimo recomendável parada de veículos na terceira pista.
Foram doze demorados quilômetros subindo a tal da serra, e eu certamente levei bem mais de uma hora subindo. Lá em cima, acostamento melhorzinho, céu começando a abrir, fim da subida interminável, que foi trocada por uma sucessão de subidas e descidas. Parei no Shopping Mineiro, ou algo assim, que é uma tenda que vende coisas mineiras e serve comida. O atendente me disse que não tinha nenhum lanche doce, que foi o que pedi, então ele me deixou ocupar uma mesa plástica na rua para fazer o lanche que eu trazia. Peguei dois pães amassados (que havia comprado antes do almoço), coloquei muita goiabada e dois pedaços grandes de queijo sobre um deles, e usei o outro para cobrir, fazendo um sanduichão com dois pães no lugar de um. Na caramanhola, preparei Toddy com leite em pó, e esse foi meu segundo almoço, regado a uma garoa gelada e fininha que caiu em alguns momentos. Enquanto recarregava as caramanholas, antes de ir embora, perguntei ao tiozão da tenda se era longe até Mogi. Ele disse "eu caminhando levei três horas, ocê de bicicleta vai levar uma hora e meia, mais ou menos". Não contrariei o tio, peguei minha água, prendi as luvas nojentas no bagageiro e me mandei.
Ao chegar em Mogi das Cruzes, cidade que o Dorival garantiu que era tranqüila, com marcante imigração japonesa, achei que era ainda muito cedo, e botei o GPS pra apontar para Guararema, a uns 23km de distância. Depois de seguir algumas placas, e encarar subidas horríveis em primeira marcha, preferi pedi informação. Em uma oficina, foi só eu entrar e perguntar, que toda a família (de descendentes japoneses) foi até a rua e me explicou minuciosamente como eu faria. Apesar disso, cidades são cidades, e parei mais duas vezes para confirmar o trajeto. Após pegar a estrada certa, fui obrigado (mais uma das manobras automáticas da bicicleta) a ir numa simpática sorveteria, com simpáticas atendentes, e tomar um sorvetão de quatro bolas, que beleza. Mais algumas subidas e descidas e curvas e serras, e eu estava no trevo de acesso a Guararema.
Me surpreendi ao perguntar, em um posto, pelos bombeiros, e descobrir que não havia bombeiros ali. Em outro posto, me confirmaram a informação, e me recomendaram a pousada Calil, onde eu seria muito bem atendido pela Mariana. Fui até a pousada, mas o aspecto estava bom demais para ser verdade: um gramadão impecável, com um varandão coberto no centro contendo cozinha, redes e muitas almofadas amontoadas no centro, de um lado uma fileira de apartamentos com cara de loteamento na praia, ao fundo, na parte alta do terreno, uma casa que parecia capa da revista Casa & Construção. Fui até lá, e antes que tivesse oportunidade de bater palmas, apareceu a tal Mariana. Para variar, era mulata, bonita, com jeito daquelas empregadas da Helena na novela das oito (qualquer das novelas em que a Regina Duarte mora no Leblon e se chama Helena), só mais baixa e mais clara. Me apresentei, mas fiquei assustado quando ela comentou o irrisório valor de 60 reais, negociável para 50, excepcionalmente. Me justifiquei rapidamente e falei que talvez fosse necessário que eu ficasse em um local mais simples, perguntei se ela sugeria algo. Ela disse "tem o Grande Hotel, mas é bem ruinzinho, tu vai pagar uns 30 reais, e é bem ruim, é hotel assim de operário, de peão mesmo". Bom, lá foi o antropológico Helton ao Grande Hotel, onde ficou em um quarto com ventilador de teto, banheiro coletivo (vazio) ao lado do quarto, chão limpinho, café da manhã, por míseros vinte reais, o que se pode considerar quase abaixo do valor de mercado, hehe. Jantei no restaurante geminado ao hotel, por 8,50 self-service (conhecido também como buffet), onde de fato haviam muitos operários (descobri depois que dentro do hotel existiam operários, igualmente, mas acho que dormirão cedo).
Ao sair para vir para cá, vi que a cidade, apesar de não ser minúscula, preserva o que as cidades pequenas têm de melhor: clima pacato, pessoas andando pelas ruas, sentadas em frente às suas casas, conversando. Quando fui atravessar uma rua, numa esquina, vinha um carro de cada lado e ambos pararam. Passei pela frente de um e por trás do outro (que segundo pensei teria recebido a preferência). O motorista do segundo carro me olhou meio contrariado, e então notei que havia uma faixa de segurança onde eu estava. ELES PARARAM PARA MIM!! A cidade tem também um calçadão, repleto de jovens ordeiros e avessos ao barulho desnecessário. Realmente, um lugar que mereceu ser visitado.

Agora vou nessa, que já está quase na hora de nanar, embora poucos e planos quilômetros me separem agora da casa do Dorival, onde espero passar um agradável fim de ano. Em breve, novas (mas não muitas) fotos da viagem. Um abraço a todos.

Thursday, December 28, 2006

Dia 24 - Bertioga, SP - +/- 1.760km (68)

E aí, Galera

Saindo da LAN, em Iguape, fui jantar no restaurante aparentemente mais malandrinho da praça, e surpreendentemente consegui um maravilhoso sanduíche tipo xis, com presunto e queijo e muitas saladinhas malandras, mais um suco natural de limão (para a vertigem... não sei se tem a ver uma coisa com outra, mas é azedo!) por míseros cinco reais. Saí dali muito satisfeito, até por ter visto algumas beldades circulando por ali (até uma que lembrava as dançarinas do Faustão, inclusive no figurino...), fiz algumas fotos noturnas do clima de cidade pequena da cidade, e fui pra pousada dormir, ou melhor, tentar.





Como disse, o quarto não tinha ventilador, e era misteriosamente muito mais quente do que o corredor da pousada, que possuía muitas janelas (todas fechadas àquela hora, mas cobertas de frestas. Coisa inédita: às três da manhã, tive de me levantar, coberto de suor, e ir pé ante pé até a bicicleta. Não foi possível, pois a porta interna estava chaveada (onde já se viu??). Peguei uma aparentemente limpa toalha de rosto, e tomei aquele banho gelado, voltando para dormir refrescado, deixando a porta aberta (na rua estava um vento fresquinho). Pronto, melhorou. Um senhor que dormia em algum quarto próximo, entretanto, continuou por um bom tempo resmungando e suspirando e se revirando, o que me prejudicou um pouco o sono (azar o dele, o mundo é dos versáteis).
Acordei sem grandes pretensões de sair cedo, afinal iria somente até Miracatu, na BR-116, a uns 65km de distância. Tomei um nescau com pão, servido pela senhora da pousada, e ainda passei no banco e em uma oficina de bicicleta para limpar a corrente, que tinha bastante areia da praia e sal. Apesar de eu me dispor a fazer todo o serviço, o cara da oficina foi lá e escovou, esfregou, pincelou e areou a corrente, me entregando ela depois de um tempo como limpa. Eu, que já carregava uma garrafa de Gatorade junto, pedi por favor que eu fazia questão de colocar a corrente ali com diesel limpo, que minha religião não permite recolocar a corrente sem sacudir no diesel. Ao fazer isso, obviamente, a corrente tida como limpa tornou o diesel translúcido tão escuro quanto água de esgoto, e mais uma sacudida com mais diesel limpo, dessa vez sim, fez com que a corrente ficasse de fato limpa, pois o diesel manteve sua translucidez. Eu já havia limpado a coroa e a pinha durante a escovação, de modo que logo remontei tudo. O cara não quis cobrar, mas dei lá pra ele uns quatro pila para tomar um refri depois.
Segui em direção à estrada, e depois lembrei que precisava de água, que obtive em um comércio meio com cara de fechado, mas o senhor que cuidava me atendeu muito bem (tentou me dar água gelada, mas era de poço e continha bichinhos e folhas, então foi normal mesmo, que estava boa. O trecho ali tem bastante curvas, provavelmente para desviar de alguns banhados que permeiam a planície local. Na beira da estrada, há muitas tendas vendendo maracujá, banana, jaca, compotas de frutas. Depois de uma determinada ponte, começa uma subida infernal, especialmente se estiver um calor infernal como estava. Tive de parar várias vezes, mas em uma delas pude ficar um tempo embaixo de uma bica, mas uma senhora de uma bica, com um cano de PVC de quatro polegadas jorrando água purinha, embora não geladinha (apenas fresquinha). Depois disso, foi melhor prosseguir pedalando, e pouco depois já começou a descida, que foi longa, me rendendo uns três ou quatro quilômetros de distância.
Ao sair na BR 116, logo parei em um posto, onde bebi dois sucos de pêssego em lata. Não adianta, são caros, mas tem hora que tem que recorrer a algo bem doce e gelado, para poder prosseguir. Nestes dias quentes, isso acontece muitas vezes ao dia, mesmo fazendo trechos relativamente curtos. A BR 116, como não poderia deixar de ser, é domínio quase absoluto dos caminhoneiros, ou como diria Frank Zappa, "those masters of the road with their own secret language, and their giant oversized mechanical transcontinental hobby-horses" (quem quiser que traduza). Eles passavam zunindo, embora o vento a favor que gerassem estivesse meio abaixo da média (acho que eu estava fraco, já).
A idéia de dormir em Miracatu foi abortada por dois motivos: cidade com cara de beira-de-faixa, e horário adiantado que eu cheguei lá. Pensei então em ficar em Peruíbe, e segui o baile para tomar o outro trecho de asfalto, para o litoral.
Esse trecho, entretanto, foi o pior trecho da viagem até agora, pois o movimento é intenso e não há acostamento, existindo um degrau bem significativo separando o asfalto meio irregular de uma pista coberta de areião duro e grama. Graças ao espelho retrovisor (recomendo!), precisei sair da estrada várias vezes para dar passagens a carretas e caminhões tanque que vinham embalados ocupando toda a largura da pista.
O calor, a fome, a fraqueza, o desânimo e a angústia me fizeram decidir por encurtar a viagem e ficar em Pedro de Toledo, mas a cidade também não foi suficientemente aconchegante. Acabei (felizmente) ficando em Itariri. No acesso à cidade, um providencial transeunte me informou que lá havia o hotel três meninos, para onde fui.



Lá, pude ficar em um quarto limpo, com chuveiro bom (onde tomei um longo banho), sendo muito bem atendido pela dona. Já reconstituído, fui à pizzaria Gomes, onde pedi uma pizza que continha bacon, calabreza, queijo, azeitona, catupiry... Consegui comer só a metade, levando o resto embrulhadinho para o hotel. Assistir o especial "LU", com a dona Piovani, foi decepcionante e não valeu o sono perdido.

Em hotel sempre se acorda mais cedo, pois o café da manhã tem horário. Fui lá, tomei o meu, que foi servido em uma bandeja por uma bela e tímida mulata bem representativa da beleza feminina do sul de São Paulo (beleza que se tornaria infelizmente bastante rarefeita a partir de então). Voltei para o quarto e arrumei com vagar meu material, pois estava decidido a ficar por Mongaguá, nesse dia, e seriam pouco mais de 60km.

Trecho entre Itariri e Peruíbe, com muitas plantações de banana
Tomei meu rumo já passavam das onze horas, e por sorte logo depois de começar, apareceu um generoso acostamento. A idéia de ficar em Peruíbe teria sido péssima, acredito, pois a cidade definitivamente não tem uma cara acolhedora aos ciclistas, ou ao menos é essa a impressão que se tem ao contornar sua periferia, pois - sejamos justos - a estrada não atravessa a cidade. Depois de passar pela entrada principal, a estrada se transforma em um tapete de asfalto com largo acostamento, praticamente reta e com invisíveis subidinhas. Mesmo assim, passei ali me arrastando, que o calor era algum, o mormaço existia, o vento era meio abafado e o cansaço dos dias anteriores pesava. Parei em uma lanchonete (são raras as lanchonetes simpáticas por ali, perto de Itanhaém), onde comi uns pedaços da pizza, acompanhados de quase dois litros de refrigerante.
Segui e dei graças que chegou logo Mongaguá. A pousada onde já havia ficado estava mais cara, então finalmente fui a um camping, pra estrear a barraca na viagem, não sem antes comprar agulha e linha para costurar a bermuda, e um pão para tomar café da manhã.
Lá no camping, montei a barraca sobre uma grama meio úmida, e o banho de piscina (que era infantil) foi menos aliviante que o imaginado, já que o clima era de quase garoa e estava meio friozinho. Depois disso, fui nas mesas da churrasqueira para compenetradamente costurar o forro da bermuda (forro anti-bacteriano funciona mesmo, ela não fica muito fedida), e nesse meio tempo chegaram famílias com as quais fiz amizade. Resultado: pão, carne assada, salsichão, espaguete, refrigerante... de grátis!! O pai de uma dessas famílias, no caso o William, de Piracicaba, dois anos mais velho que eu, depois que a galera saiu fora pra dormir, ficou duas horas conversando comigo sobre a vida, o mundo e as coisas, com umas teorias muito loucas, meio místicas, que não cabem neste blog, outra hora eu conto pra vocês. O fato é que é isso que vale a pena em uma viagem como a minha, e não tive absolutamente remorso algum, pelo contrário, de trocar minha nanada das nove pela nanada da meia-noite.

Levantei meio cedo, com calor, mas a amarração que foi desempacotar o kit café da manhã, desarrumar tudo, arrumar tudo, barraca, colchãozinho, etc. (não quis apressar o corpo cansado) me levou a sair já depois das onze.

Deixando o fundo da barraca secar ao sol
Fui indo mansamente, com todos os olhos atentos à rodovia, já que a travessia do trecho urbano de Santos era uma coisa que me preocupava... Fui indo, indo, tudo tranqüilo (ou sossegado, como dizem por aqui), até o trecho onde tem a entrada para Praia Grande. Apesar da ciclovia, e por considerar a mim mesmo uma ameaça aos demais usuários da malha cicloviária, preferi seguir pela linha branca da via expressa. As placas de Praia Grande, Boqueirão, me fizeram lembrar de uma música do Joelho de Porco ("...que tragédia, sexta-feira aluga a kombi/vai lotada pra Imigrantes/prum pique-nique em Praia Grande/que é gigante...") e uma dos Mamonas ("só de lembrar nós na Kombi no Domingo/ Nosso amor era tão lindo/ nós descíamos pro Boqueirão"). Como vêem, não é à toa que a fama da praia farofesca se justifica. Chegando na beira-mar de Praia Grande, me surpreendi, pois ela é bonita, com vários jardins, praças à beira-mar, até lembra um pouco o Rio de Janeiro em alguns pontos, e o trânsito foi totalmente conciliável. Tirando o fato de que um motorista quis parar para conversar comigo (eu obviamente falei que não queria parar, ainda mais na beira de uma via expressa), e depois me achou na beira-mar dizendo (enquanto dirigia ao meu lado) que achava que o cicloturista era um ser amistoso, que já tinha lido vários relatos, que se eu pedia água e alguém negava, era bom, né?, ficou me tirando pra antipático, não entendeu que eu estava VINDO DE LONGE, CANSADO, EM UMA METRÓPOLE DESCONHECIDA, NO HORÁRIO MAIS QUENTE DO DIA, COM TRÂNSITO FORTE, E COM UMA META DISTANTE EM VISTA. Bom, nem Cristo agradou a todos, azar o dele. Ao menos me despedi dele com um sorriso, retribuído (talvez ironicamente).
Perdi a oportunidade de tirar uma foto com um monumento representando uma bicicleta amarela derretendo ao sol, mas quando o movimento diminuiu, no final da beira-mar, tirei ao menos uma foto com o horizonte coberto de arranha-céus, ao fundo da praia.



Andei mais um pouco, cruzei a balsa para Guarujá, e almocei uma esfiha de carne com dois XTAPA, algo que pode ser um suco de açaí misturado com guaraná, coisa muito boa. Segui e, ao pedir informação em um posto, me disseram que não valia a pena pegar a outra balsa para Bertioga, sendo mais negócio ir pela Rio-Santos mesmo. Fui até ela por uns 6km de via expressa com vento a favor, e segui então finalmente pela Rio-Santos, livre da mancha urbana que, sinceramente, me rendeu bem mais prazeres visuais e bem menos desagrados do que eu havia imaginado.
Pela Rio-Santos, a coisa muda bastante: pista simples, bom acostamento, e muitas curvas e alguns desníveis, o que torna o prognóstico do GPS bastante questionável em termos de distância prevista.
Foi bom chegar cedo, e a técnica de pedir informação ao frentista do maior posto de gasolina ao alcance sempre funciona: em instantes, soube que a Pousada do Zequinha, ou do Pedrinho, ou algo assim, era a mais em conta (de segunda a quinta, promoção para viajantes!), e ali perto há restaurante mineiro que serve PF, Banco do Brasil e LAN, onde estou.

Era isso galera, escrevo novamente em breve, agora vou lá, que quero voltar cedo pra pousada, pra ver o especial da Elis Regina. Ao menos não vai ser apresentado pela Lady Piovani, o que já é um sinal de melhor prognóstico.

Monday, December 25, 2006

Dia 21 - Iguape, SP - 1.520km

E aí, galera

A ceia estava realmente boa: comi filé ao molho madeira (com champignons e tudo), arroz, farofa, salada malandra (com palmito) e o Caldo (preto dos cães do norte). Depois de me satisfazer, logo fui dar uma volta a pé pela beira-mar, para ver o tão sonhado movimento. Devido a enrolações na pousada, saí pouco depois da meia-noite, a noite estava quente, e havia algum movimento de pedestres e alguns de bicicleta em direção ao centro, as casas (algumas) exibiam grupos de familiares terminando com os festejos natalinos. Em Cananéia, alguns dos hexágonos de cimento que compõem a pavimentação das vias têm um coração em baixo relevo, coisa muito meiga. Ao chegar mais perto do centro, o movimento e a concentração de pedestres foi aumentando, a maioria das meninas, coitadas, sendo vítimas do salto-alto, não precisa dizer que a roupa também era em nível de festinha de quinze anos. Fui caminhando em velocidade lesma, vendo a fauna circular, tinha gente de tudo que é tipo, a maioria jovens (adolescentes inclusive), e a praça estava bem animada. Tinha um ou dois lugares tipo boate com música tipo "pancadão". Alguns guardas municipais estavam lá para garantir qualquer coisa, mas se não estivessem provavelmente tudo continuaria na santa paz, apesar de ter figuras ali que, fora daquele contexto festivo, teriam me levado a atravessar a rua caso os encontrasse por aí (alguns até a dar meia-volta). O dimorfismo sexual é algo muito presente na espécie humana no sul de São Paulo: enquanto a maioria das meninas é bonita, a maioria dos caras é um espanto (ou são meus olhos, me corrijam se eu estiver errado...). Fiquei lá até umas duas, e voltei em velocidade sub-lesma para a pousada, que na volta pareceu ficar muito mais longe. O quarto estava quente, e eu ainda fui tomar um arzinho na piscina, dando um rápido mergulho para esfriar o corpo, antes de ir dormir.

No dia seguinte, acordei dez para as dez, com o ogro dono da pousada batendo na porta, avisando que o café estava prestes a parar de ser servido. Levantei me sentindo meio cansado, e fui lá, onde comi dois pães, um recheado com duas fatias de queijo e duas de presunto, duas xícaras de café com leite, uns pedaços pequenos de panetone, e um copo e meio de suco de (provavelmente) goiaba. Terminei de arrumar as coisas sem pressa, e desenvolvi uma técnica de passar protetor solar nas costas sem ajuda alheia, já que a camisa de dry-fit não tem sido suficiente para segurar sol forte, e eu iria sair a pedalar (sim, amigos, eu sei que não é a melhor idéia, mas...) às ONZE E MEIA DA MANHÃ...
Terminei os trâmites, paguei a janta e a interneteada da véspera (mais barato que eu imaginava, sinceramente), e fui em velocidade tartaruga-plus até a balsa para Ilha Comprida, não sem antes passar na farmácia para comprar um creme dental, que o meu havia acabado em Eldorado.



Novamente uma cênica travessia de balsa, e três quilômetros e meio de areia menos fofa do que eu imaginava, até chegar no tão sonhado litoral.



Confesso que a expectativa que criei não foi merecida, pois as ondinhas estavam baixas, o vento fraco, o mar mais ou menos escuro, e a farofada já se manifestava de forma tênue. Peguei meu rumo para o norte, no início com bastante empolgação, mas a velocidade se estabilizou em aproximadamente 17,4km/h (sim, era esse o valor, chatos). Para a fama de praia deserta até que a ilha comprida não serve muito, pois a todo o momento eu cruzava com banhistas, automóveis, motos, algumas casas perdidas, pescadores. A todo o momento, haviam gaivotas (ou aves semelhantes a gaivotas) correndo pela beira da água. Percebi que algumas eram mancas, devem ter machucado a pata em alguma coisa (lixo?).



Ao chegar em uma tenda que demarcava o povoado de Pedrinhas, no meio da Ilha Comprida, parei para tomar e comer alguma coisa. Optei por pedir uma porção de camarão frito, que um salzinho e uma graxinha são necessárias ao bom pedal, pelo menos ao meu bom pedal.
Sentei à sombra (depois descobri que ao abrigo do vento, também), comecei a suar, vi que havia uma duchinha ali do lado, tirei a sapatilha e entrei de roupa e tudo, ô, beleza, melhorou bastante o mal-estar. Quando vieram os camarões, me espantei, era uma travessa gigante, com algumas rodelas de cebola à milanesa, e uns limõezinhos. Pedi um garfo e um pouco de maionese, e mandei ver. Tive de tomar duas latas de maravilhoso e gelado guaraná para conseguir empurrar tudo aquilo goela abaixo, credo. Para fazer a digestão, consegui ganhar numa partida de sinuca de um piá lá da tenda (que deve ser viciadinho, mas eu sou mais), já que a mesa ficava na sombra E no vento.
Segui viagem já em meio a pingos de chuva, mas esses pingos duraram uns 200m, apesar de a paisagem em volta estar rodeada de nuvens negras e paredões azulados de chuva, em minzinho nunca cai nada, droga!



Assim fui indo, contando quilômetros, tomando água cada vez mais morna, lutando para levar adiante os camarões no tubo digestivo, e outras distrações necessárias quando se está em uma paisagem monótona. Não digo que não tenha valido, foi muito zen essa pedalada, mas confesso que faltou a brisa fresca marinha e sobrou o mormaço abafado do verão do centro do país, e isso interfere muito na percepção ciclista das belezas naturais.
Quase chegando na Ilha Comprida (centro), avistei uma tendinha minúscula vendendo coisas, e a bicicleta automaticamente foi até ela, e eu pedi uma água com gás. Não tinha, só sem gás. Sem gás, então. Quando ela abriu o isopor, vi reluzindo entre as pedras de gelo aquelas latas vermelhas do caldo preto (coca, COCA!!), e na hora todos aqueles anos de propaganda subliminar afloraram das profundezas do meu tronco cerebral (sim, a coisa é arraigada), e eu pedi COCA!!! AAAAAAAHHHH, aquela foi a melhor coca da minha vida, cada gole, cada bolhinha de gás carbônico estourando contra meu palato, cada grau Celsius que minhas papilas linguais e meu esôfago perderam naquele momento, nossa, credo, duvido que alguma viagem de LSD possa reproduzir esses momentos sublimes de deleite e satisfação intensa que senti naquele momento. Quando terminei (a galera lá devia achar que eu era meio louco), entreguei a latinha vazia (resisti à idéia de trocê-la para extrair até a última gota), com aquela expressão de "era exatamente disso que eu precisava", e prossegui. Pergunta: e se não tivesse tenda nenhuma ali, eu ia proseguir, até quando? Veja bem, esse gozo transcendental significa um grau tal de hipertermia e desidratação, e a gente só nota porque aparece uma banca? Estranha a mente humana, não? Viva o tálamo! (chega de neurofisiologia por hoje).
Logo em seguida, com tudo mais claro e vívido devido ao maldito/maravilhoso caldo preto, a multidão se avolumou, os comércios atrás das micro-dunas se multiplicaram, e resolvi sair da beira-mar em direção à AVENIDA beira-mar, onde logo parei em uma mercearia para comer dois picolés Jundiá (a marca da hora por aqui) de tangerina. Obviamente artificiais, mas tão geladinhos... Ilha Comprida é o paraíso do farofeiro, só dá turista de carro pra lá e pra cá, com todos os clichês do comportamento do urbano na praia no verão (ainda bem que fui no supermercado em Curitiba, e não aqui, não sei se sobreviveria). Lembra muitíssimo Tramandaí-RS. Logo adiante, a rótula para Iguape, um trecho com ciclovia (sim, uma para cada lado), uma ponte, uma bela paisagem da cidade, que lembra até Paraty, guardadas as proporções, tomei as ruas que indicavam "centro". Nova semelhança com Paraty: o calçamento irregular, com os mesmos hexágonos de Cananéia, mas ao invés do coraçãozinho um IN, ou NI, não tenho idéia do que signifique. Parei num hotel "quanto é" "cinqüenta" "tem quarto mais simples?" "Posso te fazer por quarenta" "até logo". Fui perguntar ao vendedor de cachorro-quente da outra rua, e ele me indicou uma pensãozinha escondida. Fui até a praça, de frente à igreja, ambas rodeadas de casinhas pintadas de várias cores, com cal, bem ao estilo colonial comum em Minas Gerais (a igreja eu nem fotografei, de tão manjada, mas ao mesmo tempo encantadora). Entrei em uma rua tão estreita que se entram duas Towner, uma em cada ponta, ao mesmo tempo, uma tem que dar ré. Achei a tal pousada "tem quarto?" "tem" "quanto?" "doze" "onde eu coloco a bicicleta?". Fui tomar banho, e durante o banho senti bastante vertigem. Novamente, durante o banho, senti aquele fenômeno de lavar o sovaco, a virilha, a nuca, e senti-los quentes, mesmo com o chuveiro correndo água fria. Aproveitei para lavar a roupa, e fiquei lá um tempão, um pouco de cócoras, deixando a água correr. Saí de lá ainda com vertigem, cansadão, e me deitei para tirar um cochilo, zonzo. Levantei meia hora depois, para procurar um lugar que vendesse salada de fruta, o súbito novo desejo.
A praça já estava mais movimentada, com um clima totalmente familiar. Passou um turista de carro, e alguém de dentro do carro jogou uma garrafa de água mineral vazia EM PLENO MEIO DA RUA, NA PRAÇA CENTRAL, NA FRENTE DE TODO MUNDO!!!! Fui lá, peguei a garrafa, joguei no lixo (se estivesse de bici, jogaria dentro do carro, como já fiz certa vez), senti desgosto pelos turistas chatos, e entrei numa lanchonete. Não tinha salada ou suco de frutas, mas tinha sorvete de frutas, e isso me pareceu praticamente a melhor opção possível. Pedi quatro bolas de sorvete em um copo, sentei no cordão da calçada, e apreciei o clima sossegado da cidade, em meio a manchas de desgosto turístico que passavam sobre quatro rodas de tempo em tempo.




Enquanto vinha para a lan, algumas aceleradas de moto e sons de pneu, enfim, nem tudo é perfeito. Na lan, deu pra ver novamente que Iguape (ao contrário de Ilha Comprida) preserva as características da fauna e flora feminina do sul de São Paulo: muitas meninas adolescentes morenas, cabelos lisos, pele bem bronzeada (ao natural, claro) e, obviamente bonitas. Antes que me acusem de pedofilia, advirto: sou um observador antropológico, e olhar não engravida.

Agora, vou lá, que tá acabando meu tempo, minha paciência, e a pracinha deve estar bombando, que a missa deve ter acabado já. Um abração a todos, e durma-se com um calor desses (o quarto não tem ventilador).

Sunday, December 24, 2006

Dia 20 - Cananéia, SP - 1.455km (80)

Olá, pessoas

Hoje o dia foi de pedal meio sacrificado em alguns momentos, mas valeu cada gota de suor, pois vim parar numa "praia" que é demais! Vejam só (novamente em modo resumido, podem me chamar para a ceia a qualquer momento):

Acordei mais ou menos cedo e subi para tomar café da manhã. O Hotel Eldorado, além de não ser muito limpo (havia barata), tem um café da manhã meio fraco. Durante o café, minha dúvida a respeito da viabilidade de ir a Cananéia se dissipou, pois assim o fizeram também as nuvens, e o dia ficou bastante ensolarado. Terminei de comer uns pães com margarina e café com leite, paguei com algum sacrifício (a camareira sumiu para dar um recado e demorou a aparecer com o troco, na verdade eu poderia ter saído sem pagar que só teriam notado no dia seguinte...), e me mandei pela estrada afora. Estrada com subidas e descidas leves, exceto uma um pouco maior, 25km até Jacupiranga. Lá, passei um trabalhinho para achar a agência do Banco (que, tenho de admitir, estava na minha cara), reabasteci a carteira, e me mandei, cruzando a BR, para Pariquera-Açu, por mais 12km de asfalto ondulado com sol um pouco mais forte já. Parei para comer um xis até bem saboroso, e tomei uma garrafa de Gatorade genérico (Energil, é bom até, e mais barato), e duas latas de Del Valle sabor manga, que delícia. Enchi a garrafa, peguei as informações, e me mandei.
A estrada que vai de Pariquera até Cananéia é um asfalto suficientemente bom, não muito movimentado, mas tem um trecho que é uma sucessão de baixadas leves sem uma única curva, eu pedalando sob o sol via aquelas ondas de calor sobre o asfalto, já com sede e cansado e de saco cheio, com dor nas mãos (que, como disse Enrique Calvo, paradoxalmente são a parte do corpo que mais sofre em uma cicloviagem - assino embaixo!), e o velocímetro tava de mal comigo, os quilômetros passavam lentamente, até que finalmente saí do meio daquele forno de mata atlântica rasteira e asfalto, e avistei a balsa, que tinha acabado de atracar e que levaria meia hora (contada no relógio, no caso) para partir para o outro lado. Emborquei mais duas garrafinhas de Kuat, na sombra de um abrigo de cimento amplo, tipo parada de ônibus.
A travessia de balsa, como sempre, foi de grande beleza cênica, aquelas balsas a motor, com funcionários uniformizados, as margens ao longe, o reflexo do sol na água, a esteira que o barco deixa...



Travessia de balsa chegando em Cananéia. Ao fundo, montanhas da Ilha do Cardoso
Do outro lado, mais um pouquinho de asfalto e chegava a Cananéia. Logo nos primeiros metros depois do belo pórtico com uma caravela em cima, vejo uma placa "Hotel sei lá o que". Parei, vi que tinha LAN (onde estou agora), pátio amplo, restaurante, ajeitado o negócio. Apareceu a dona, uma senhora bem jovem, e me disse que o quarto era 45 reais (argh, pensei, vou adiante). Perguntei por uma opção mais econômica, e ela logo falou que tem também o albergue coletivo (leia-se, só meu, quem é o idiota que viaja no domingo véspera de natal?), com banheiro e ar-condicionado no quarto, e piscina livre 24h. Uhu, é aqui mesmo.
O marido dela é um cara tipo alemãozão, alto, olho claro, natural de São Paulo capital, que optou por vir para Cananéia para curtir melhor o astral, etc. É o dono da pousada e pelo que vi não está mal de vida não. Me convidou para fazer um passeio de lancha para a Ilha do Cardoso, por um valor promocional, e eu aceitei, queria tomar banho de mar enfim, vamos lá.
Entrei no jipe dele, e fomos indo em velocidade de lesma, dando um tour pela cidade, vimos a beira-mar, a pracinha, o boteco, o restaurante, belas meninas morenas, como sempre, estacionamos o jipe (um caco, diga-se de passagem, ideal para praia), descemos ao trapiche, e começamos a desamarrar um barco meio graúdo, que tinha um motor com o número 150 escrito, quem manja de barco não precisa dizer mais nada... O lugar dos trapiches era um braço de mar de quilômetro e meio de largura, mais ou menos, e do outro lado já era ilha comprida. Havia muitos barcos de pesca e escunas ancorados por ali, visual bacana.
Já começou que o troço não quis pegar, não queria pegar, e o cara dizendo "ih, nem desamarra", e eu com a CARA já meio amarrada (não consigo esconder esse tipo de frustração quando estou prestes a dar um passeio de barco e tomar banhos de mar num dia muito quente), quando vê o rapaz que cuida lá conseguiu fazer pegar, e saímos. Antes disso, porém, o dono do bote, seu André (não esqueçam, o alemão dono da pousada), já havia olhado o tanque de gasolina, e viu que andava meio vazio. Me perguntou ele: "cê trouxe dinheiro?" e eu "não" e ele "ih, nem eu, bicho, então, sem dinheiro, sem gasol, sem condição..." Eu, imaginando que, como da vez do arranque do motor, o problema iria se resolver como mágica, continuei la proa do barco, aproveitando o movimento.
Após a manobra de saída do trapiche, o barco havia tomado uma certa velocidade tranquila. Então o André deu uma aceleradinha, e agora sim, dava pra ver que a proa subiu um pouco (tanto que fui lá bem na ponta), e que a água realmente PASSAVA por sob o bote. Mas, meus amigos, um 150 pintado em um motor realmente significa algo: o marvado deu lá um pisão na manivela, e o bicho deu um pulo pra frente, de modo que agora a lancha não passava, ela VOAVA pela água, numa velocidade que chegava a dar medo (literalmente de deitar o cabelo, e no meu caso a barba também), estimo algo em torno dos 70km/h. Minha felicidade e alegria em contemplar aquela visão de 360° de braço de mar, ancoradouro, outros barcos, morros altos com nuvens de chuva, reflexos marinhos, só não foi maior, porque o acelerador foi desenroscado, demos meia volta, e o maluco falou "é, bicho, com essa gasolininha aí não dá pra arriscar não, vamos voltar". Bom, aí sim eu me frustrei de vez. O ápice da minha frustração, que estava bastante evidente na minha expressão facial, foi quando, de volta ao jipe, o André falou "vamos ali no bar, tomar uma água, tomar um suco" e eu "sem dinheiro?" e ele "ah, mas aqui eu estou entre amigos..." AAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHH. A vontade era de sair correndo pegar a bike, mas ele garantiu que era jogo rápido. E foi mesmo, desceu ali no bar, falou com um e com outro, e trouxe uma galera de encachaçados para dentro do jipe, e eu "ai, meu Deus", lá fomos nós a uns 8km/h até a pousada, de volta, eu vendo o ar puro, as beldades no calçadão, os minutos de luz solar, se esvaindo enquanto estava imerso em uma atmosfera de barulho de motor diesel e cachaceiros fumantes com cheiro de asa... Quando avistei a pousada, comecei a recuperar a esperança, e o ébrio anfitrião me olhava detrás de uns óculos escuros quase escondidos na aba do boné, um sorrisão no rosto "acho que meu hóspede vai me abandonar, hehehe, ainda bem que pagou adiantado, hehehe" e eu "com certeza, meu velho, te larguei!".
Não menos que rapidamente, tirei as bagagens da bike e me mandei pela principal, chinelo e calção de banho, mais nada. Ao chegar ao calçadão, obviamente, diminuí a velocidade e fui estilo "lowrider", só tirando uma onda e avaliando as belezas locais, que não eram poucas. Toquei direto ao trapiche onde estava a lancha brocha, e dei umas braçadas para aliviar o calor e a frustração. Ambos sumiram instantaneamente, que beleza... O visual de qualquer ancoradouro, de DENTRO da água, sempre é algo reenergizante, desde que a água não seja imunda, e aquela não era, apesar de praticamente parada. Saí então para prosseguir o rolé, e ver se encontrava novamente um grupo de minas que ficaram olhando, e eram obviamente de fora da cidade. Após umas três voltas em torno de um polígono que envolvia a beira-mar, a praça (onde elas estavam) e umas ruas secundárias, vi que haviam saído e seguiam a beira-mar. Me fiz de louco e dei uma volta a mais, ligeirinho, para vê-las de pé, e realmente, todas se salvavam e muito. Mas como queria tomar mais banho e falar com mais gente, fui até um outro trapiche, mais ajeitado, onde uma turma tomava banho, puxei o clássico assunto se era fundo, se tinha perigo, onde era melhor pra pular, e me mandei água adentro, contornando um barco a uns 50m e voltando. As gurias ficaram na delas (desceram até o trapiche acompanhando uns magrões), mas já puxei assunto com uns locais, e novamente pude ver que a turminha daqui tem outra cabeça, são muito amistosos, receptivos, e não ficam falando bobagens ignorantes sobre viajar de bicicleta e todos os outros assuntos da vida (quem pedala por cidades do interior sabe do que estou falando...). O visual do pôr do sol estava mágico, mesmo que ele estivesse ocorrendo para o outro lado, atrás da cidade: os barcos e a margem oposta brilhavam ao ser iluminados, enquanto a água e as nuvens ao fundo continuavam escuras. Havia chovido já, um pouco, e um enorme arco-íris emoldurava a cena, que eu obviamente não fotografei, e que ficará para sempre em minha memória.
Saindo dali, vim pedalando lentamente pela principal, vendo as pessoas já se preparando para a ceia de natal, saindo dos mercados, se usa muito a bicicleta por aqui. Na pousada, fui direto à piscina, onde nadei mais um pouco e fiquei lá de molho olhando as nuvens no céu, bastante negras na direção da Ilha Comprida. Saí da piscina, tomei banho de chuveiro com direito a sabão e musculação na hora de pentear a crina. Agora, espero que as donas retornem para jantar algo que espero seja uma boa ceia de Natal.

Um abraço a todos, Feliz Natal, e aguardem as novas aventuras.

Saturday, December 23, 2006

Dia 19 - Eldorado, SP - 1.380km (85)

Galera, estes últimos dias foram os melhores dias que já tive em cima de uma bicicleta, portanto não tenho como transmitir, tanto escrevendo como fotografando, assim rapidamente, a grandiosidade que a vivência merece. Para não deixar os amigos sem notícias, coloco aqui muito resumidamente o que aconteceu, para que possa um dia editar o post com calma. Inspiração é desnecessária, é só lembrar que ela vem na hora.

Quarta de manhã saí da casa do Roberto e da Celsis (também não tenho como pôr em palavras como me receberam bem e me apoiaram) e tomei a estrada que vai a Adrianópolis, a BR-476.



São mais de 100km de curvas consecutivas, plantações de Pinus, morros muito ondulados e na maioria das vezes cobertos ou prestes a serem cobertos por Pinus, não importando a declividade do terreno (juro que vi morros com mais de 60° de inclinação cobertos de Pinus EM CARREIRINHA!!!).

Trecho representativo da 476 - curvas ondulando em meio a morros, com asfalto perfeito e pouco trânsito.





Em Adrianópolis-PR, cidade irmã de Ribeira-SP, o povo é muito hospitaleiro, e todos saem a caminhar de noite na praça, as meninas são simpáticas e puxam assunto, além de terem a pele bem morena e traços mestiços realmente bonitos.



No outro dia, um calorão dos infernos, fui pedalando pela margem paranaense do Ribeira, passando por uma mina de chumbo, vendo as casinhas bucólicas, passando por uma balsa, depois subindo uma serra animal, por onde passa um teleférico quilométrico transportando caçambas de calcáreo de uma mina (que domina o enorme topo de um morro) até a fábrica em Apiaí.









Lá também tem morros com Pinus e gado, pelo jeito o gado lá faz montanhismo, porque é de chocar um gaúcho acostumado a coxilhas ver o gado trepado em verdadeiras montanhas. Depois da serra, um caminho de terra e subitamente uma descida, uma subida, rodeado de mata fechada, algumas curvas e rios, e de repente um trecho de concreto, serpenteando pela encosta de um morro, com penhascos de mais de 300m de queda praticamente livre, e paredões e ravinas cobertos pela exuberante floresta tropical umbrófila, ou mata atlântica.



Descendo pela estreita estrada (que a mata não escondia esforços para tomar de volta), passei por um aterro de material tóxico da mineração de chumbo, e "casualmente" acima do aterro havia um desmoronamento de um barranco com uns 80m de altura... Uma pena isso.



Fiquei na pousada da Idati, no bairro da Serra, a 13km de Iporanga.

No outro dia, acordei tarde e fui fazer um passeio guiado. Primeira parada, uma gruta com uma entrada estreita, e uma caminhada de algumas centenas de metros, seguindo um rio subterrâneo, até uma cachoeira. Vários trechos se esgueirando por entre pedras onduladas, com marcas de desgaste provocado pela água, assim como formações de estalactites e cortinas calcáreas, muito interessante, emocionante mesmo.






Depois, fomos para uma outra caverna, com uma entrada enorme, e depois passamos por dentro do rio subterrâneo, com água pelo peito, desviando a cabeça das estalactites, algo não recomendado para quem tem claustrofobia.

Esse é o filho da Dona Idati e do Seu Alaor. Esqueci o nome dele,
mas foi um excelente guia, grande companhia, recomendo muito!


Por último, fomos pelo rio Bethary (o principal do lugar), com bóias, em direção a umas cachoeiras, mas acabou escurecendo antes e ficou pra outra oportunidade. Só o fato de estar deitado na bóia, repousando e vendo as folhas passarem na margem, foi impagável. Dormi cedo, pois estava podre de cansado, e comi frango com batata, que amassei, delicioso, tinha feijão tb, mas minhas tripas estavam reviradas. Dormi às nove e acordei para ligar o ventilador sentindo um pouco de febre.

No outro dia (hoje, sábado), acordei podre, moído, indo insistentemente ao banheiro para eliminar o conteúdo intestinal contaminado, sendo que ao meio-dia já estava melhor, mas não muito melhor. Tomei café da manhã e me mandei com chuva e tudo, até Iporanga, por uma estrada de chão costeando o rio, só esse trecho já foi um atrativo à parte. Vale ressaltar que toda a minha estada no Alto Ribeira foi sonorizada pela araponga, um pássaro que fica fazendo "téin, téin", parece um martelo numa bigorna, é o dia todo isso, dá vontade de estrangular o bicho, mas não vi nenhuma, só ouvi, e como ouvi. De Iporanga até Eldorado, é um asfalto estreito, costeando o Rio Ribeira, cujas encostas são cobertas pelos floridos ipês-amarelos, e mais abaixo pelos gigantes bananais da região. São mais de 70km de estrada bonita, mas praticamente igual, chegando a ficar monótona no fim. Mesmo assim, vale o trecho.
Agora, estou na LAN, depois de tomar banho no hotel. Saindo daqui, vou jantar. Eldorado é uma cidade pequena, mas já não é tão simpática e receptiva como as outras lá pra cima.

Um abraço, e até mais!

Tuesday, December 19, 2006

Dia 15 - Curitiba, PR - 1.076km (00)

E aí, Galera!

Como havia dito, no sábado à noite houve um evento organizado pelo Roberto Bikeline, o Grande Desafio 2006, para encerrar o ano, com largada à meia-noite, percurso de 130km com algumas subidas e estrada de chão, e participação de uns 50 ciclistas.
Fui para a frente da loja, e aos poucos começaram a se reunir inúmeros ciclistas vindos de tudo que é canto, e arruma daqui, cumprimenta dali, eu de longe olhando, anota nome na ficha de inscrição, enche caramanhola, e eu tonto de sono, aí puxei papo com um, com outro, já me perguntaram se eu ia participar sem camisa mesmo (estava quente), quando de repente, como não poderia deixar de ser, resolvi participar, azar.



Estava cansado, mas a oportunidade de pedalar em grupo, com um monte de gente desconhecida (até algumas meninas muito queridas, se é que me entendem), por um trajeto digno do nome "desafio", era algo imperdível.
Fui correndo lá dentro, tirei os alforjes, barraca, corrente, bolsa de guidão, calcei a sapatilha, botei a bermuda, uma camisa de ciclismo, luva...
Ao fazer um pseudo-aquecimento, vi que algo estava muito, mas muito promissor: a bici sem as bagagens parecia pesar uns 5kg ao ser pedalada, simplesmente voava! Uhu, isso vai ser divertido.
Na largada, a tripa toda enfileirada sob o comando do Roberto. Por alguma razão, talvez empolgação, alguns (incluindo eu) foram na frente, e por um mal-entendido pegaram uma esquina errada. Na volta para o caminho certo, um dos participantes caiu sobre uma corrente que cercava um posto de gasolina, nada grave, mas o Roberto, obviamente, sentou o xixi na galera, o que bastou para que todos ficassem logo bem mansinhos e controlados. Tomamos o asfalto em direção a Campo Largo, e logo me posicionei entre os ciclistas que estavam na frente, e fomos indo, numa seqüência de subidas suaves e descidas suaves, com uma média até bem alta, parando eventualmente para esperar a galera.
Mais adiante, tomamos uma descida com piso de cimento, onde, coisa nunca antes vista por estes olhos cansados, presenciei o espetáculo (ai, que meigo) de dúzias de luzes azuis dos leds das bikes, enfileiradas em fila indiana, desenhando as amplas curvas do caminho, em alta velocidade (isso porque eu estava lá na frente, olhando para trás, como eu sou bom, huehue). Depois, umas descidas de estrada de chão, onde a galera ficou me tirando pra loucão, devido ao uso modesto que eu fazia dos freios, ultrapassando o pessoal a milhão e por vezes (mas com segurança) tirando fininhos.
A primeira das fortes subidas na estrada de chão, enquanto tinha gente descendo para empurrar, subi pedalando de pé, a uns 20 por hora ou mais, ô coisa boa. Mas logo em seguida morri, e voltei a pedalar sentado, numa marcha bem leve, botando os bofes pra fora, devagarinho.
O trecho noturno se estendeu por intermináveis curvinhas e pontezinhas e baixadas em meio a sítios, até que chegamos a uma pequena vila, chamada São Luís do Purunã, com ruas de paralelepípedos e casas com decoração de lugar turístico (que era, mesmo). Neste momento, começou a ficar mais nítida uma certa neblina, um sereno mais grosso, com um vento frio, e seguimos, cansados, visto que vínhamos eu e mais uns cinco em um ritmo puxado pela estrada de chão, tentando achar o caminho para a pousada onde seria o café da manhã. Após pedalarmos sofregamente pelas últimas subidas do caminho, e nos embaralharmos com algumas placas confusas, achamos a entrada, pulamos uma porteira de madeira, e descemos por uma serpenteante e indefinida estradinha rodeada de enormes Pinus, até chegar no salão do café da manhã, que estava, obviamente, ainda fechado. Sabendo que o café estava marcado para as seis e meia (eram cinco e pouco), deitei em uma rede que havia por lá, e tirei um cochilo.
Acordo com o pescoço doendo, as costas muito, mas muito geladas, e o ruído de uma porta sendo aberta e de uma voz feminina dando bom dia. Aos poucos, me levantei, juntei a tralha que havia largado no chão coberto por agulhas de Pinus (inclusive a sapatilha), e fui caminhando de meia mesmo, até uma das cadeiras do salão, enquanto o pessoal já ia se acomodando e as moças iam preparando o café. Logo, chegaram mais ciclistas, e o salão rapidamente ficou recheado do rumor provocado pelos ciclistas famintos, sonolentos, cansados e com frio, o que não impediu que continuassem animados a ponto de rapidamente surgirem com algumas garrafas de cerveja em punho (alguns, somente alguns).
Ao ser servido o café, a fila que se formou foi tão grande, que preferi conviver mais um pouco com a sensação de estar pegajoso, com os intestinos paralisados pelo esforço acumulado e pelo horário inusitado, em dúvida quanto à oposição entre a necessidade e a capacidade de comer o máximo possível. O tempo foi passando, e percebi que a fila não diminuía, só mudava de personagens, então resolvi fazer algo produtivo e, após alguma espera, peguei lá uns bolos, pães, cucas, sucos e café com leite. Para arrematar, após algumas visitas ao banheiro para estabilizar o peso, uma xícara de café preto com açúcar, e uma esticada em um banco de tábua, que já estava claro na rua e a galera estava com cara de quem queria partir logo.
Optamos por ir pelo asfalto, o que foi uma idéia esperta, já que mesmo àquela hora era fácil perceber que o dia seria muito quente. Após uma brusca arrancada pelo caminho de acesso à pousada, no sentido do asfalto, e uma tocada forte declive acima com a esperança de alcançar os líderes do pelotão, fui forçado pela falta de condições físicas a rever meus conceitos e considerar mais positiva a idéia de ir acompanhando os últimos (e últimas) do pelotão.
Isso foi uma boa idéia, pois pude conversar com mais gente, me desgastar menos, parar inúmeras vezes, aproveitar o passeio por mais tempo. Ao chegarmos finalmente de volta à casa do Roberto, já em menor número (na verdade eu e uma moça muito simpática, chamada Luciane, e um outro rapaz que não me lembro o nome), acompanhados pela Celsis no carro de apoio, tomamos rapidamente um banho e fomos à churrascaria Ripa & Costela, onde houve a entrega dos "brevets" de Imortal (aqueles que não morreram durante o passeio), regada a muita bebida e comida.
De volta ao lar, já bem alimentado, ainda pude contribuir de forma bastante proveitosa para a limpeza dos cães, sendo que isso foi feito com mangueira, balde, escova e xampu, no pátio, servindo também para refrescar a mim e à Celsis - os encarregados da faxina canina. Não muito depois disso, e antes das cinco horas da tarde, quero crer, fui me deitar um pouquinho, e me acordei às onze e meia do dia seguinte.

Estava me sentindo um bagaço. Cara inchada, preguiça absurda, calor, moleza. Almoçamos um rigatoni com molho de atum e maionese com ervilhas, coisa muito fina, e tivemos sorvete como sobremesa. Em seguida, voltei a dormir até começar a escurecer, momento em que se formou uma nuvem de chuva bem grande (maior que Curitiba, na verdade) e choveu um pouco. Depois de passada a garoa, tive a péssima idéia de ir ao supermercado tentar comprar os víveres de que necessitaria na quarta feira, mas o choque cultural de entrar em um super-hiper-mega-monster-mercado depois de semanas na estrada me deixou com brotoejas de aversão, de modo que saí correndo. Jantei num rodízio de pizzas e dormi perto da meia noite.

Hoje (terça) acordei também onze e meia, almoçamos uma e meia, fiquei um tempo na oficina do Roberto ajudando a montar umas rodas, depois fiz uma longa caminhada até um super mercado, onde contraí novos laços matrimoniais com um kit copa-queijo-goiabada, que, espero, me serão fiéis até que a morte (deles) nos separe - desta vez, queijo Samsoe, que chique!
Comprei um baguete e um suco de pêssego, que consumi como lanche no banco da praça em frente ao super, e voltei preguiçosamente até a oficina, já com os pés doendo pela falta de costume em andar de havaianas (Ballina, aliás, não são as legítimas, vai ver foi isso). Jantei um xis com suco de polpa de morango, escrevi isto, e agora tomarei banho e nanarei, que amanhã a rotina rodoviária retornará à minha vida pseudo-nômade.

Abraços, até mais!

Saturday, December 16, 2006

Dia 12 - Curitiba, PR - 955 km (117)

E aí, Galera

Depois de um considerável tempo, então, sobrou disposição de escrever mais um pouco. Esses últimos dias foram dias, claro, de paciência e aprendizado, fechando hoje (sábado) o "ciclo" da BR-101, onde muito se pedala, pouca foto se tira, e se não houver criatividade, muito pouco se conta. Farei o possível.

(desnecessário dizer que depois da janta de segunda, ficamos enrolando até tarde, indo dormir lá pelas duas da manhã, após atualizar fotos, orkuts, etc.)

Terça de manhã, acordo depois das dez, já com vontade de me mexer logo (impressionante como essa vontade ressurge logo, apos uma parada de um dia num estirão de uma semana), e imediatamente vou lá expulsar meu anfitrião de sua cama, coisa que foi mais fácil do que pensei. Fomos à garagem, onde tive de me despedir, não sem pesar, da amiga Goiabada (no fim), da amiga Copa (só uma tampinha) e do amigo Queijo (esse ainda tinha até, mas fedia e estava com muito papel grudado nele, além de ter ficado duas noites exposto à atmosfera potencialmente povoada da garagem do Varda). Arrumei alforjes, amarrei barraca e corrente (ainda virgens nesta viagem...), e comi uns pedaços de pão "maturado" com margarina, e Nescau, que serviram como pré-almoço. O Marcelo resolveu ser bonzinho e me acompanhar no trecho urbano, e o resultado disso pode ser visto aqui:


Estava uma manhã meio chuvosa e abafada, e pelo que pudemos ver de previsão do tempo, nada animadora. Fomos assim mesmo pedalando com o barulhinho de pneu molhado, paramos embaixo da ponte para fazer (mais) fotos, e seguimos pela beira-mar norte do continente, disputando espaço com carros, ônibus e outros ciclistas, até chegar na 101. Fomos mais um pedaço, e o seu Marcelo filmando e dando dicas sobre o caminho, até que chegamos em um viaduto e ele disse que pegaria o retorno. Nos despedimos, e ele tomou a lateral, para passar por baixo do viaduto, enquanto eu acelerava viaduto acima. Enquanto estávamos lado a lado, escutei-o gritar algo como "vai lá, gaúcho", e ele lentamente sumiu detrás do canteiro. Percebi que naquele momento se encerrava uma etapa de minha viagem, uma boa etapa que foi conhecer e conviver um pouco com o novo amigo Marcelo Varda, com o qual consegui (embora não tenha dito isso a ele) encontrar muitos pontos em comum. Quando ele sumiu completamente, voltei a olhar para a estrada molhada, viaduto acima. Naquele momento, passou um caminhão barulhento soltando fumaça.
Segui então pela 101, passando Biguaçu, as entradas para Governador Celso Ramos, e o trecho meio vazio que vai para Tijucas, sempre com chuva e com vento nordeste, portanto contra. Parei, nesse trecho, em uma parada de ônibus, onde descansei um pouco e recoloquei um parafuso do bagageiro, que descobri ter caído há algum tempo, fato que causava um barulho alienígena há alguns quilômetros já. Ainda bem que levei parafusos reserva, uááááhahahaha!!





Parei em um restaurante perto das três da tarde, onde me empanturrei, como sempre, com um buffet já no final e sobremesas servidas em algumas porções consecutivas. Cerca de uma hora depois, segui passando por Tijucas, trevo de Portobelo, entrando em Meia-Praia (já Itapema), onde me esperaria a Aline, namorada do Rodrigo, ambos do Natsul, grupo naturista ao qual recentemente me filiei, como sabem. O trecho depois do almoço, ao menos, foi sem vento contra.
Parei em frente ao Calçadão Praia Shopping, onde liguei para a Aline, que em vinte minutos veio de Balneário Camboriú, onde estava, para me guiar até o apartamento dela, de carro, muito perto dali. Realmente ela mora de frente o mar, pois se der um cuspe da sacada, com força, é capaz de o cuspe cair na areia da praia já. Pena que o dia estava bem chuvoso mesmo, naquele momento, e um vento forte vinha do mar. Tomei um banho necessário, e fomos então de carro tentar conhecer a Praia do Pinho, terceiro possível ponto de referência naturista em minha viagem (o primeiro, Pedras Altas, em Palhoça, foi abandonado devido também à chuva e à distância, e o segundo, Galheta, em Floripa, por ser bem fora do caminho, e local já conhecido por mim - recomendo muito!). Ao chegarmos na portaria, o porteiro nos informou que, nos dias de semana, a entrada para visitantes era até as 18h apenas (e já passava das 18h naquele momento), de modo que optamos por tentar voltar no dia seguinte, se a meteorologia colaborasse. Fomos até Balneário Camboriú, visitar o Valdir e sua esposa, que se não me engano se chama Zelma. Eles são um casal (não diga) que cuida bastante da Praia do Pinho, tanto ambientalmente quanto eticamente, orientando as pessoas para que tenham um comportamento socialmente e naturisticamente aceitável na praia. Lá conversamos bastante longamente sobre esses assuntos, assim como sobre viagens aventurescas pelo Brasil, coisa que o Valdir muito já fez, a pé e de carro. A conversa foi felizmente acompanhada por um farto café da tarde, oferta que aceitei com a pouca cerimônia que permeia o comportamento dos cicloturistas famintos, como já percebeu qualquer um que tenha sido exposto a algum espécime dessa fauna. Basta dizer que parei de comer quando acabou tudo o que tinha na mesa, hihiii.
Saímos de lá já escuro, e fomos fazer uma visitinha à nova amiga Rosy, com quem já falava pelo Orkut, e que sempre me mandava mensagens me desejando boa sorte. Ela é bastante extrovertida e simpática, e se interessou muito pelas minhas histórias, um interesse vivo muito visível naquelas pessoas que adorariam fazer o mesmo, mas que sentem receio em tentar, e ao mesmo tempo prazer em conhecer e ouvir a história de quem está fazendo. Quem sabe ainda, hein, dona Rosy?
Saímos de lá e fomos direto para a casa da Aline, ainda satisfeitos com o café do Valdir, apenas para dar uma olhada rápida na internet e ir nanar ouvindo a brisa e as ondas marinhas, eu num colchão na sala.

No outro dia, rapidamente, ao acordar, percebemos que a idéia de ir ao pinho teria de ser abortada, pela chuva.



A Aline tinha um compromisso onze e meia, e um pouco depois disso, e depois também de bater umas fotos em frente ao prédio dela, me mandei pela principal de Meia Praia até sair na 101, o asfalto molhado, algumas manchas de sol eventuais, um dia abafado. Ao passar pela entrada da interpraias, até deu aquela pena de deixar o Pinho para trás, pois o dia estava abrindo, mas azar, a esperança nem sempre é boa substituta para o realismo, segui viagem. Achei interessante o túnel antes de Balneário Camboriú, metade dele é leve subida, metade é leve descida, e todas as luzes apontam para frente, de modo que tive de tirar uma foto lá dentro apontando para a saída, após o "topo", atingindo velocidades perigosas no trecho final, visto que as tubulações que ladeiam a estreita passarela possuem fixações bastante pontiagudas e ameaçadoras.



Do outro lado, pude contemplar sem muita reflexão os arranha-céus da orla, enquanto tomava no corpo o último chuvisco do dia, provavelmente decorrente do aclive topográfico do recém-cruzado morro. Embora houvesse oferta relativamente abundante de locais de parada para comer, preferi seguir, e somente antes de Penha parei em um boteco para comer uns risólis de carne, chocolate, suco e refri.
Depois do pseudo-almoço, segui refletindo se deveria seguir a sugestão do dono do boteco, que me disse que existia o posto Sinuelo, que era um paradouro onde se encontra de tudo para o viajante (meu cérebro construiu a imagem: cyber-café, milhões de chuveiros, milhões de quartos, restaurante estilo penitenciária chique, milhões de caminhoneiros com barba por fazer com camiseta regata branca encardida, pátio lotado de carretas sobre um chão de paralelepípedo enlameado cheio de poças d'água refletindo a luz de lâmpadas de sódio em dezenas de postes em forma de ponto de interrogação). A outra opção seria parar em uma pousada onde já fiquei, no trevo para Itapocu (sim, é um lugar minúsculo), opção mais próxima e mais garantida, porém com infra sabidamente limitada. Me preocupava especialmente ver se o Roberto Coelho, de Curitiba, já havia deixado o scrap com seu telefone e/ou endereço, para que pudesse encontrá-lo quando lá chegasse, no fim de semana.
Ao passar por Barra Velha, mais adiante, percebi que estava bastante perto do mar, e tardiamente notei que havia uma rua paralela, à beira-mar, asfaltada, a apenas uns 80 metros da 101. Nesse ponto, já havia decidido ficar em Itapocu, sendo que isso provavelmente me daria tempo para tomar um banho de mar - é uma heresia que um aficionado por mar como eu, há dias na estrada sendo lavado por suores e garoas, passasse tão perto do mar DE SANTA CATARINA e não entrasse para um mergulho.
O curto trecho pedalado na orla, uma bem-vinda pausa no frenesi pseudo-urbano da BR-101, não só descansou um pouco minha mente como também me fez abandonar convictamente a sensação de perda balneária, já que pude ver uma praia com faixa de areia estreita, grossa, cortada por eflúvios de origem duvidosa, com ondas baixas, mexidas e escuras.
Antes de Itapocu, já com tempo de sobra, distância restante totalmente ao alcance, e compulsão por banho marítimo amansada, parei na bela Tenda Alves, onde fui atendido por uma senhora e sua filha, e pude tomar água de coco no coco e comer (foi necessário persistência!) dois cachos de uva daquelas bem grandes com casca durinha, mas que beleza!



Bati algum papo com um caminhoneiro que parou lá, me deu umas dicas sobre estrada, sobre a serra de Curitiba, etc. Ele e a filha da senhora da tenda disseram que na subida da serra havia alguns pontos onde correm córregos e eu poderia me banhar um pouco. Coisa muito promissora. Peguei informações para achar a pousada também, e toquei ficha. Não menos de oito quilômetros depois, lá estava eu.
Cheguei, encostei a bici no degrau, entrei com aquela cara de cansado e suado, me atendeu uma senhora que poderia ser a dona do lugar, me chamando de querido, etc, anotou meus dados a mão em uma folha de caderno, me levou até um quarto. Eu frisei que a bicicleta deveria entrar no quarto, obrigatoriamente, e ela gentilmente removeu uma cômoda de um quarto de duas camas (uma de casal e uma de solteiro) com banheiro e ventilador de teto, e eu fui deixado em paz, sozinho.
Tomei um longo banho, chegando a me acocorar (não é acrocar, como o pessoal fala...) no box, deixando a água cair, ou então ficando por longos momentos espiando da janelinha o movimento na BR, enquanto era refrescado pelos pingos frescos. Ai, que fescura!!! Depois do banho, tentei anotar algumas coisas no meu mini-diário manuscrito com planilha de gastos, mas o soninho pegou e tirei uma sesta de umas duas horas! Quando consegui reagir, já eram oito e meia, e resolvi que deveria comer, e logo. Sabia haver um boteco ao lado, então foi para lá que me mandei. Com sorte encontraria uma bela moça que lá estava quando fiquei um tempo na entrada da pousada descansando, e se não me engana a miopia ela ficou me olhando de longe, com lânguida curiosidade...
Saí do quarto e na recepção não havia ninguém. Saí para a rua, e o boteco estava definitivamente fechado e às escuras. Percorri as dependências do andar térreo, incluindo um ambiente com uns caça-níqueis, mas só ouvia rumores vindos do andar de cima. Voltei à recepção do hotel, e nada. Na peça ao lado, um bife fritava, abandonado. Ao retornar à saída, em busca de algo ou alguém, me apareceu um senhor, que entrou e rapidamente foi para trás do balcão. Antes disso ainda me olhou, com expressão entusiasmada: "tu que é o ciclista?", ao que respondi "sim, sou eu", e ele "pô, bem incrementada tua bicicleta!". "É especial para viajar", disse eu, levemente intrigado com o fato de não lembrar de qualquer oportunidade na qual o até então desconhecido pudesse ter tido a chance de ver a minha bici. Lhe perguntei: "tá fechado o bar ali?", "tá, tá fechado, eles tão em reforma". "Pois é, é que eu queria jantar". "É, na verdade eles vão inaugurar amanhã, só", e se foi para trás do balcão, ver o bife". "E onde é que eu vou jantar então?", perguntei, e o ogro que estava mexendo no filé "como?", e eu, com o manancial de paciência começando a secar "onde é que tem JANTA?!". "Ah, faz assim então, ali pra trás tem um posto com restaurante, é coisa muito boa, comida caprichada, acabei de vir de lá" (e tava fritando bife!). Eu "É longe?" ele "não, não, deve dar uns 200 metros" eu "dá pra ir de bicicleta ou tem que ir caminhando?" ele "vai caminhando mesmo, eu fui e voltei caminhando, já fiz uma física!" eu (com alguma vontade de espancá-lo por não perceber que eu não só já havia feito a minha "física" do dia, como não tinha a menor vontade de tornar a usar e expor a minha "bicicleta incrementada" naquele momento) "(suspiro) e vai aqui pela beira de BR, mesmo?" ele "isso, só seguir, dá uns 200 metros".
Lá fui eu, com aquela sensação de entrar em fria, celular e chave do quarto num bolso, carteira cheia no outro, havaiana nos pés, bermuda e camiseta. À medida que me afastava do hotel em direção ao viaduto, a iluminação foi ficando daquelas meio de filme de terror americano, coisa de encruzilhada de cidade pequena à noite, pouca luz, nenhum movimento, barulho dos caminhões, grilos, lâmpadas de mercúrio zumbindo e arremessando para baixo seu pálido brilho azulado, passos (os meus, no caso). Ao me afastar mais, pegando o acostamento da BR, muitos metros além dos 200 que o jaguara havia estipulado, fiquei completamente no escuro, vislumbrando a estrada somente graças à rápida varredura dos faróis dos veículos que passavam rápidos e indiferentes. Houve algum receio de encontrar algum mal intencionado no caminho, e de que esse encontro se desse através da colisão pura e simples, já que a escuridão não era pouca, mas logo pude ver, atrás de uma elevação em curva na estrada, o brilho do provável local da janta, e uma placa, daquelas azuis que têm um pneu, um telefone e dois talheres cruzados, com a legenda "300 m". Realmente a "física" do tio da pousada afetou sua capacidade de avaliar distâncias, o manco...
Dentro do restaurante do posto, havia um buffet, e me servi de massa, lasanha, feijão, salada, e era servido um bife na chapa, que pedi acebolado, com um suco de morango feito com polpa congelada. Pude assistir uns pedaços da novela enquanto comia, e a televisão, enquanto gritava sem trégua, era sistematicamente observada pelas pessoas que mastigavam, como não poderia deixar de ser. Ao pagar, pedi informação para a caixa, sobre a possibilidade de seguir para a pousada por uma estrada paralela que eu havia visto enquanto vinha jantar, com pouco movimento e iluminada, mas ela não só custou a entender que eu não estava de carro, como também não deixou claro se tal estrada era vantajosa, viável ou mesmo possível. Resolvi esquecer o perguntômetro e recorrer ao botãozinho do F***-se, indo em direção à estradinha essa.
Não sei se é pior andar sozinho à noite de havaianas e uma carteira no bolso por uma rua escura ou por uma iluminada. Várias pessoas, sozinhas ou em grupo, passaram por mim no sentido contrário, mas tentei fazer com que a cara de mau prevalecesse sobre a expressão corporal de receio que lutei para não demonstrar. Depois de passar pelas pessoas, ainda tive de conviver com uma carreta mal-assombrada que vinha lá detrás, pela rua, suas luzes ligadas, mas a míseros sete ou oito por hora, como se estivesse me seguindo. Ao ser ultrapassado por ela, vieram mais duas, no mesmo ritmo, e então elas imediatamente aceleraram, fizeram a curva em direção ao trevo da pousada, já próximo, e se mandaram. Agora vejo que o primeiro motorista estava só esperando seus companheiros de viagem para seguir adiante, noite adentro.
Ao entrar de volta na pousada, respirei aliviado ao ver que o ótimo guia-recepcionista não estava no balcão, apenas havia um agrupamento de camareiras, algumas inusitadamente bonitas, que me lançaram olhares constrangedores enquanto eu rumava para o quarto. Atualizei minhas anotações e fui dormir, esperando acordar disposto no dia seguinte.

Acordar até que acordei cedo, mas enrolei até quase nove horas, que é o horário em que o café da manhã dos hotéis costuma encerrar, então fiz um esforço e me levantei, me vesti (não preciso nem dizer que nos quartos de hotel exerço a forma mais primitiva de naturismo, que é o nudismo doméstico, especialmente para dormir), e fui ao andar de cima para me alimentar. Tomei café com leite e iogurte, e comi pão com margarina, bolo e um pedaço de abacaxi, observando o movimento na via e o céu com manchas azuis, prenunciando um dia quente.
Voltei ao quarto e, antes de me organizar definitivamente, ainda ditei mais um pouco, pois penso que é melhor descansar completamente e sair bem disposto, do que contrariar a sabedoria do corpo e pedalar contrariado. unto aos preparativos finais, incluí, nesse dia, uma camada rala de filtro solar nas partes mais expostas (ah, pessoas, além de barbudo, cabeludo e provavelmente mais magro - e com a lordose bem aparente, deve ser o cansaço - estou com as pernas e antebraços marrons afu, mas só esses lugares, também :o( . Ao chegar à recepção, encontrei novamente a senhora do dia anterior. Encostei a bici para pegar a carteira e pagar, e ela deu uma olhada, perguntando "essa bicicleta é boa, né", ao que eu inevitavelmente respondi "é, eu montei especialmente para viajar". "Quanto custa uma bicicleta dessas, é cara?" e eu, já contrariado e encarando ela bem no olho, mas com expressão simpático-cínica "é, mais de mil reais" e ela "aaaahhh!" com aquela expressão de bocó. Nesse momento, após eu largar os 25 trocados em cima do balcão, apareceu lá um cliente, acompanhado de sua namorada até bem bonitinha, a senhora falando "olha só, o rapaz aqui tá indo até Minas Gerais de bicicleta. É coragem, né, hein..." e antes que ela continuasse eu falei "bom, aqui tá o pagamento, a estrada é longa, eu vou indo" e o resto do meu sorriso ainda colidiu com o olhar penetrante e provocador da "namorada" do hóspede, por um instante fugaz. Botei as rodas na rua, me introduzi rodando por sob o viaduto, cruzando a BR, e toquei em velocidade de cruzeiro para o norte. Ao olhar para a direção da pousada, para ver se estaria sendo seguido por uma quadrilha de jagunços latrocidas esquartejadores de cicloturistas, vi, ao lado do letreiro "POUSADA", em letras tão garrafais quanto, o letreiro "SAUNA". Aaaaaaahh, então era isso, como já deve ter notado o leitor atento e mais malicioso do que o ingênuo e mentalmente cansado pedalador que vos escreve.
Tranquilizado pela crescente certeza de não estar sendo seguido, e intrigado pela pouco perceptível associação entre os dois estabelecimentos praticamente mesclados num único prédio, segui viagem, esperando chegar a Garuva bem antes do pôr do sol. Ao falar com meu pai por telefone, na véspera, recebi a informação de que a chácara que meu tio tem em uma estrada asfaltada que é prependicular à 101 distava uns 20km, para fora da BR. Entretanto, telefonei para o marido da minha prima, genro de meu tio, e este me informou que seriam no máximo 13km, e que eu poderia falar com o seu Quiliano, o caseiro, que seria rápida e gentilmente acolhido lá.
Durante a manhã, uma das primeiras e principais preocupações foi quanto a encontrar um local com internet que eu pudesse usar. Parei no tal Posto Sinuelo, e para minha surpresa ele não era uma mini-cidade para caminhoneiros, mas sim um posto de combustível misturado com uma loja de departamentos à beira de estrada. De fato, tinha tudo que se pode imaginar, desde camisa de pano para lampião até bombom Ferrero Rocher edição especial de Natal, agora, quarto e internet, não tinha mesmo. O simpático e padronizado rapaz do atendimento me informou que em um determinado viaduto da BR, havia um acesso a um bairro, em cuja rua principal existia uma LAN-house. Animado pela perspectiva de ler logo os scraps, segui viagem, entre as inúmeras tendas e lojas com anúncios de queijo nozinho, queijo em trança, marreco recheado, coelho defumado, cachaça de Luiz Alves, vinho Vô Luiz, toalhas por 19,90, porcelanas e cristais Hering, jaquetas de couro legítimo, além dos onipresentes côco gelado e caldo de cana.
O rapaz me garantiu que o bairro de Joinvile onde estava a LAN era uma periferia tranquila, mas me pareceu uma periferia meio favelesca, e ao chegar na rua que seria a rua de entrada, vi sair de uma cabana, com toda a ginga possível, três jovens que poderiam tranquilamente ser os protagonistas do filme Cidade de Deus, portanto abandonei instantaneamente a idéia de parar por ali. Os trechos seguintes envolveram muito sobe e desce e inúmeros acessos de entrada e saída da rua lateral, nos arredores de Joinville, a maior cidade de Santa Catarina. Curioso é que a cidade fica suficientemente afastada da BR para que não se veja o esperado mar de arranha-céus.
Parei para almoçar no restaurante do Supermercado Makro, o que se revelou uma boa opção - cardápio do dia: almoço italiano. Lasanha, penne, espaguete, a carbonara, com presunto, até moqueca de cação à capixaba tinha. E o melhor, as janelas eram baixas e pude almoçar com ar condicionado a menos de um metro da bici, que ficou do lado de fora, em estacionamento de supermercado, que bem ou mal é um local cercado e com entrada mais ou menos controlada.
Nem bem terminei de mastigar, saí para o ar abafado da tarde, fui no posto de gasolina, escovei os dentes, enchi as garrafas, calibrei os pneus, e segui. Alguns quilômetros de sol, suor, subidas, baixadas, degraus de acostamento, andarilhos suspeitos, placas de queijo-marreco-toalha-jaqueta, me obriguei a parar em um posto para matar meio litro de gatorade de laranja seguido de meio litro de água mineral, um recorde, realmente a sede é algo que existe no verão brasileiro. A tentativa de uso de internet na polícia rodoviária e num posto de gasolina alguns quilômetros atrás me fizeram pensar que, ao contrário do que eu imaginava, o poder de comoção de um cicloturista carregado e obviamente cansado e inofensivo, à beira de uma faixa movimentada, é nulo. Creio que quem trabalha nesses locais já teve a curiosidade e a solidariedade embotada por trabalho repetitivo, apego ao cumprimento rigoroso de regras, e a provável sensação de que pouco pode haver de novo e merecedor de atenção no cotidiano de beira-de-estrada, o que, na minha opinião, é uma pena.
Ao chegar em Garuva, segui as orientações dadas pelo balconista do posto onde tomei o litro líquido, consegui encontrar uma LAN-house, e o lance de escadas que levava ao topo do prédio foi vencido sem muita dificuldade, mesmo com os alforjes, de modo que pude encostar a magarela em um local bastante seguro e visível, enquanto usava o computador. Fiquei uma hora lá, pois era cedo e o destino estava próximo, e afortunadamente o Roberto já havia respondido meu scrap, de modo que telefonei para ele e obtive seu endereço, deixando tudo combinado para o dia seguinte. No meio tempo, olhei os outros scraps e conversei pelo messenger com outras pessoas especiais, de quem sempre tenho saudade e com quem me agrada muito conversar.
Saí de lá alegre, pois o GPS (agora com pilhas novas, compradas em um mercado onde atendiam duas LINDAS caixas, coisa rara) marcava míseros 13km para a chácara de meu tio. Pena que após os ditos quilômetros, em uma estrada semi-plana e semi-reta ladeada por açudes, banhados, arrozais e mata litorânea densa, o ponto marcado começou a ficar PARA TRÁS, e a falta de referência me deixou decepcionado. Um quilômetro após o outro, pensava se não teria já passado do ponto, até que resolvi parar e perguntar. Um senhor me explicou que ainda era mais para frente o ponto, e quando finalmente achei a chácara, havia percorrido quase 22km para fora da BR! E tudo isso para não gastar com pernoite em Garuva, que até corpo de bombeiros tinha! E agora, senhores, quantos reais será que vale um quilômetro rodado?
Chegando à porteira da chácara, dei uns gritos e apareceu um senhor não muito alto, barba grisalha, pele bastante queimada pelo sol, que rapidamente descobri se tratar do seu Quiliano, o caseiro que, segundo o Fernando (marido da minha prima Rosângela), me faria sentir "em casa". Disse quem eu era, de quem era filho, que era sobrinho do seu Wilson, que já tinha estado na chácara antes, etc. Ele conversou amavelmente comigo, me recebendo muitíssimo bem, me convidando para entrar, mas caiu quadrado no ouvido quando ele falou: "só fica meio ruim é de eu te receber aí, porque eu não tenho a chave da casa..." "mas eu trouxe barraca" "é, na verdade tem um quartinho lá, com cama, deve ter um chuveiro, espera aí que vou buscar a chave". A coisa lentamente melhorava. A janta estava garantida pela lanchonete a meio quilômetro dali, segundo informação (bem mais precisa desta vez) do seu Quiliano. Agora era ver o quarto e o banho!
Ao ser aberto o quarto, vi uns seis colchões acomodados em dois beliches num quarto de 3x3m, bastante abafado e com cara de pouca ventilação. O banheiro, proporcionalmente pequeno, possuía um fóssil de chuveiro que consistia no clássico cano na parede, aquele olho negro lá em cima insinuando "e aí, vai encarar a aguinha gelada no lombo?". Até o seu Quiliano concordou, após eu me despedir da peça urinando no vaso e tendo dificuldade em fazer a descarga funcionar (continuou sem funcionar apesar da intervenção mais intensiva da parte dele), que seria uma melhor idéia dormir NA OUTRA CASA, sim, pois havia uma outra casa, vazia, com várias peças, banheiro, cozinha, mobília básica, no terreno ao lado da chácara, e também de propriedade de meu tio. AAAAAhhhh, agora sim, lá fomos nós.
O esperado aspecto de pouco uso da casa não foi entrave para minha satisfação ao entrar no vasto domicílio. Percebemos que só havia um chuveiro (apesar dos dois banheiros), que as luzes funcionavam, havia alguns travesseiros e várias camas (eu usaria a canga como lençol), então agradeci previamente ao seu Quiliano, combinamos que eu deixaria a chave por dentro da porta dos fundos ao ir embora, e que eu jantaria lá na curva na tal lanchonete.
Ao entrar sob o chuveiro, abri as torneiras e nada. Fechei as torneiras, virei a chave de temperaturas para a posição desligada, e abri o registro. Mas ao abrir as torneiras novamente, qual não foi minha surpresa ao ver que a água saía por todas as emendas do chuveiro, que apresentava realmente várias frestas em sua carcaça. Banho frio, lá vou eu, não totalmente a contragosto, pois o dia estava de fato quente. Só que os fios elétricos conduziam um pouco, e eu senti aquele choque desagradável que ocorre quando a água escorre em um jorro contínuo desde a fiação até o couro cabeludo do vivente.
Troquei de chuveiro e ali sim pude aproveitar o espaço maior e a precisão do jato grosso e contínuo que escorria do cano horizontal que provinha solitário da parede. Na verdade, acredito que um banho morno não seria tão agradável. Sem delongas, me sequei, me vesti, penteei improvisadamente o cabelo (que ofereceu bastante resistência depois de dias sem ver um pente) e fui, caminhando, até a lanchonete. Ao chegar finalmente na frente, dei com a cara na porta, estava fechada. Oh, céus, oh, vida. Toquei a campainha, a senhora disse que só servia almoço. E eu "mas onde eu janto então?" "Ah, na outra lanchonete logo ali na frente" . Menos mal.
Lá chegando, pedi uma janta completa e um guaraná 600, que logo comecei a tomar, já meio têmulo de cansaço e fome, em frente à TV. A janta que veio foi uma tigelona de feijão, outra igual de arroz, salada, aipim (só o aipim já dava a janta toda), e farofa de banha de porco feita na hora. Ah, e dois bifes gigantes no estilo sapatos-de-neve. Comi os dois bifes e menos de um terço do restante da comida, e saí caminhando já no escuro, bem satisfeito. Ao chegar de volta na casa, tomei outro banho gelado, e me deitei sobre a canga em uma cama de casal com um travesseiro bem aconchegante com cheiro de guardado. Assim, antes das nove e meia e mais uma vez praticando o nudismo doméstico, adormeci.

Bem, uma vez na vida dormir cedo, isolado e em silêncio deu efeito: por volta das seis e pouco da manhã, eu já estava de olhos abertos, ligando o telefone para ver que horas eram, e lentamente criando forças para levantar. Levei bastante tempo para organizar a vida, e finalmente abri o leite em pó e o toddy saché que me acompanhavam desde São Chico (quase dez dias carregando um quilo desnecessariamente...), que comi com um pedaço de pão (esse, sim, veio ao Paraná, vamos ver se chega a São Paulo).



Limpos os óculos, passados o desodorante e o filtro, arrumadas as bagunças e fechados os registros, segui viagem, saindo às quinze para as oito, já meio fedorento, pois as roupas que foram lavadas na véspera com sabonete, apesar de aparentemente limpas, estavam ainda úmidas e - maldição - exalando ainda a catinga costumeira.
Quantos reais vale um quilômetro? Ainda não cheguei à conclusão, mas os vinte e um quilômetros que tive de percorrer para VOLTAR ao mesmo ponto da 101 me consumiram exatamente uma hora, de modo que às quinze para as nove tomei a BR em direção a Curitiba, aguardando a tão malvada serra.

A serra paranaense, ao fundo

Aquele trecho é bastante bonito, havendo vários córregos cristalinos em meio a pedras de arenito alaranjado que afrontavam acintosamente o meu prezo por um banho de rio, pois no momento eu já sentia bastante calor, mas o medo da serra e a vontade de contrariar o prognóstico de 12 horas de viagem feito pelo Roberto na véspera me fizeram optar por contar com o banho de chuveiro mesmo, e fazer a viagem render durante o dia. Afinal, o prezo pela velocidade média e pela aproximação com o destino futuro da viagem também participam da minha vida atualmente. Assim fui indo, no sobe e desce, com os viadutos sobre os regatos, e com os sítios convidativos cheios de palmeiras e bambus e bananeiras e samambaias e toda a exuberante mata costeira, jardinzinhos, estradinhas, trilhazinhas, parece que todos os donos de terrenos à beira da estrada, naquele trecho, combinaram de decorar suas propriedades da mesma forma. A cada córrego, olhava aquela água tão improvavelmente clara, e olhava à esquerda, encosta acima, me certificando que a floresta íngreme de fato não abrigava nenhuma moradia potencialmente poluidora.
Exatamente como previsto, andei não mais do que um quilômetro e meio na parte realmente inclinada da serra, até que aparecesse algum caminhão quase tão lento quanto eu, e eu obviamente me segurei em uma providencial alavanca na carroceria, sendo assim rebocado sem problmas por bem mais de dez quilômetros. Fui assim ajeitando a posição da mão, trocando o pé que ficava embaixo, suportando o peso do corpo, entre o esquerdo e o direito, desviando dos inúmeros buracos e remendos do asfalto (todos eles de pequenas dimensões). Eventualmente soltava do caminhão em trechos piores, até para tomar uma água, conseguindo alcançá-lo novamente sem problemas, dada a baixa velocidade. Durante a subida, notei a discreta queda de temperatura, e por sorte não houve nenhum ponto paisagisticamente muito privilegiado, porque eu definitivamente não largaria meu caminhão tubarão para ficar batendo fotos. Até um mini-cachoeira à beira da faixa eu refuguei, hehe.
Abandonei o caminhão, sem grande sentimentalismo, ao passar na frente da polícia rodoviária, quando aliás começava a descida. Uma descida, apenas, porque logo adiante havia mais subida, e assim foi até chegar bem mais para cima, uma sucessão de subidas e descidas, sempre mais subidas, e nenhum caminhão lento o bastante para segurar. Parei em um posto já com 60km rodados, posto Monte Carlo, onde comi um pedaço de bolo e um néctar de caju em lata. Enchi as garrafas de água, e segui viagem. Bem mais adiante, e algumas subidas depois (contrariando a muito duvidosa informação do caixa do posto de que "agora é mais descida até Curitiba"), já em algo que tinha mais cara de pré-perímetro-urbano, parei num posto com apetitoso e provavelmente caro buffet para comer uma coxinha com guaraná, e descansar a bunda, bem como os pés. Eu estava com dor nos dedos do pé direito, provavelmente por ter ficado muito tempo forçando ele para baixo durante a carona no caminhão. Nada é impune!
Depois de revigorado, sem fome e descansado, pensando estar próximo ao destino, comecei a atravessar a zona bem periférica de São José dos Pinhais, e dá-lhe sobe e desce, acostamento ruim, vestígios de civilização vindoura, trevo com a BR-116, e nada do troço chegar, as placas sempre indicando uma distância adicional a mais do que era esperado, um sol escaldante, e a vontade de pedalar me dando força só por saber que faltava pouco para chegar (cada vez menos, na verdade). Parei num posto para pedir informação, depois pedi informação para um entregador de panfleto, e sempre era mais para frente: passando o Big, primeira sinaleira à esquerda, vai sair na Rua Chile, quando chegar em frente ao cemitério Água Verde, rua Silveira Peixoto, 86, loja Bikeline!
Achei a frente da loja meio estranha, não tinha número, liguei pro Roberto, que logo me atendeu. Entrei e fui apresentado à sua esposa, a Celsis, aos seus filhos Daniel e Alan (que foram chegando aos poucos), a três simpáticas coas (duas labrador e uma daschund - lingüiça para os leigos), e a dúzias de bicicletas. Nada como se sentir em casa.



Comi umas pizzas, tomei coca cola (O caldo...), sorvete de chocolate, banho de chuveiro, e horas e horas escrevendo este bendito blog, que já estou de saco cheio e vou publicar logo, que daqui a pouco é a largada de mais um dos inúmeros eventos que o Roberto organiza por aí toda hora, todo dia, e eu pretendo conversar um pouco com o pessoal antes de nanar (pra variar, a largada é à meia noite, soa familiar?)

Um abraço a todos, e até a próxima. Pode ser que demore!