Monday, March 05, 2007

Dia 91 - Porto Alegre, RS - 4.970km - final da viagem

Bom, pessoal, finalmente minha viagem terminou, estou em casa (agora na LAN, na verdade, pretendo me livrar do vício internético doméstico), prontinho para iniciar avidamente minhas atividades acadêmicas daqui a poucas horas. Lá vai o relato sucinto dos últimos dias de viagem.

Saindo da LAN em São Bonifácio, de fato fomos à pracinha para ficarmos matando tempo e apanhando uma certa brisa. Na hora da janta, comemos novamente a janta no Essen Haus, que consistia do mesmo cardápio do almoço, remisturado e reaquecido, mas mesmo assim estava bom. Deitamos cedo, mas ficamos assistindo Tela Quente para que o sono viesse. Dormimos bem e a noite toda.

No dia seguinte, terça, fomos acordados com a advertência ameaçadora de que se ficássemos ali após as dez da manhã, pagaríamos um pernoite a mais. O aviso foi dado às quinze para as dez, de modo que nos mexemos logo e nos mandamos para a padaria para tomar café e comer pão. Feita a refeição, fomos à praça, onde ficamos esperando pacientemente a hora do almoço, já que o dia estava quente e o plano era sair na metade da tarde para percorrer os cinqüenta quilômetros de estrada de chão durante o dia, e emendar noite adentro para percorrer a maior distância possível longe das malignas ondas térmicas. Almoçamos ao meio dia, e ficamos lá remando o prato até uma da tarde mais ou menos, conversando com os trabalhadores que estavam no restaurante, aproveitando para obter várias informações sobre a estrada, que segundo eles estava muito precária. Depois de remendar meu pneu traseiro na praça, furado por um fio metálico desses que se solta dos pedaços de recapagem dos caminhões, saímos em direção a Rio Fortuna, pouco depois das duas e meia da tarde, já que as ondas de calor não estavam assim tão malignas.
A estrada tampouco era tão horrível, poderia sê-lo para carros e caminhões, já que apresentava inúmeras valetas, mas sua textura era bastante lisa, era um areião fino e batido, sem acréscimo de cascalho, o que permitia manter uma boa velocidade média sem muita trepidação, requerendo apenas desviar de algumas panelas e negociar com as valetas nas descidas. Assim fomos, subindo e descendo, pegando água e descansando - pouco, na verdade - sentindo novamente o prazer de pedalar. O sono e o rango da véspera nos deixaram muito dispostos.
Porém, como nem tudo são flores, consegui quase no fim do passeio profaná-lo com o mais indesejado e vergonhoso evento na rotina de um cicloturista: um tombão! Vinha eu descendo em meio a algumas curvas, quando em uma curva para a esquerda desencaixei o pé esquerdo para auxiliar no equilíbrio. Logo em seguida, porém, havia uma curva para a direita, e creio que enquanto me ocupava de reencaixar o pé esquerdo e desencaixar o pé direito, devo ter deixado de prestar atenção ao solo, e acabei passando com a roda dianteira na borda direita de uma valeta longitudinal. Como a curva era para a direita também, a roda escorregou, ocorrendo o fenômeno do "pealo", que é quando a bicicleta simplesmente desaparece debaixo do ciclista. Sendo assim, acabei sendo freado pelo meu couro lixando no áspero e fino areião, o que me rendeu uma mancha esfolada na perna, um tampão removido do joelho, e mais uma escoriação menos pior no quadril, por cima da bermuda, que ficou levemente furada. As mãos nada sofreram porque eu estava de luva, e a musculatura também ficou absolutamente preservada, já que não houve impacto algum.
Imediatamente, comecei a sentir uma ardência extremamente forte, enquanto o sangue porejava muito lentamente pelos ferimentos. Preferi não lavar e seguir adiante, procurando uma farmácia em Rio Fortuna para comprar um analgésico. Enquanto o Edgardo ia na frente, eu ia descendo todo cagado, com aquela cara de quem chupou limão, rangendo os dentes. O pé direito chegava a tremer sobre o pedal devido à dor intensa, não por eu estar pedalando, mas por estar ardendo, ardendo muito. Chegando finalmente em Rio Fortuna, tomei dois comprimidos de Dolamin (um bom analgésico, sem dúvida) e fomos à padaria fazer um lanche. Foi bom finalmente que as pessoas parassem de ficar olhando para minha enorme barba, para prestar mais atenção ao meu joelho esfolado e a perna lavada de sangue seco e empoeirado. Além disso, a cidade, de imigração alemã, está repletas de loirinhas muito lindas de olhos claros e pele lisinha.
Dali, pegamos o asfalto até Braço do Norte, e eu estava me sentindo muito bem para pedalar, já que o analgésico funciona rápido. Dali seguimos a São Ludgero (chegando lá ainda de dia), Orleans, Urussanga (onde jantamos um xis bem meia boca), Cocal do Sul e Criciúma, onde ficamos no Hotel Gion, a opção mais relativamente em conta. O banho foi bastante dolorido, mas o aspecto da perna melhorou consideravelmente após a limpeza. Apesar de tudo, consegui dormir logo.

Bom, já é tarde e devo ir almoçar. Assim que possível, eu termino de contar a viagem. Pretendo ainda escrever algumas reflexões não narrativas sobre tudo que descobri, confirmei e aprendi durante a viagem, mas para isso terei de refletir primeiro, o que deve levar algum tempo ainda. Grande abraço, e até mais!