Sunday, July 24, 2016

Bike Check Vermelha

Bikecheck + Reviews + historinhas = GT Karakoram com peças alemãs de ciclotour + dez anos de vida real

  • Frameset: GT Karakoram, tamanho 20”, chromoly, fabricado em 1996(?), adquirido em 2006, com adesivos refletivos colados sobre os originais, para “chamar menos atenção”;
  • Cubo traseiro: Rohloff Speedhub CC - 14 marchas internas - 2006;
  • Cubo dianteiro: SON 28 Klassik (dínamo) - 2006;
  • Freios Magura HS-33 - 2012;
  • Bagageiro traseiro SL Touring;
  • Paralamas SKS P65 Chromoplastics;
  • Pedivela Shimano Exage no lado da coroa (braço cinza, coroa 46 de alumínio, coroas menores removidas), Shimano LX do outro lado (braço preto);
  • Guidão, canote, selim, aros, raios, movimento central, pedais, caixa de direção: sim.
  • Luzes dianteira e traseira de LEDs - alimentadas pelo dínamo, feitas em casa;

Peças que a bike já teve:

  • Selim Brooks Flyer honey (botei em outra bike, para randonneuring);
  • Pneus Schwalbe Marathon XR 2.0 (atingiram o final da vida útil após dez anos de uso);
  • Farol Schmidt E6 halógeno - aposentado pelo advento dos LEDs;
  • Freios V-Brake XT “pantográficos” - tirei para botar os Magura;
  • Coroa 39 de aço (a atual é 46);
  • Cadeirinha de criança feita em casa - melhor coisa! - tirei porque o piá cresceu;
  • Suspensão Manitou Black 2003 - botei na bike do piá.

Quando eu montei essa bike, eu estava em uma época de delírios com cicloturismo. O meu emprego era rentável porém monótono, eu morava com minha mãe, e então eu comecei a ler sobre viagens cicloturísticas mais longas, peças de cicloturismo, e essas coisas que quem gosta de bike e de internet faz. Alguns conhecidos de Porto Alegre faziam viagens para o Chile e outros lugares, e eu morria de inveja.
Logo em seguida descobri que, justamente em Porto Alegre, havia a Teutobike, praticamente uma ligação direta entre todas as marcas famosas e o nosso mercado local, eliminando toda a novela que seria ter que importar tudo da Europa, em épocas em que as compras por internet ainda não eram tão disseminadas.
Aos poucos comecei a comprar. Primeiro pneus e bagageiro, depois dínamo e farol, depois cubo com marcha, depois selim.

[Fotas montagens iniciais]

Tendo terminado tudo isso, fiquei com a sensação de um pássaro que construiu o ninho, e agora vai ter que botar o ovo. Quem monta uma bike para viagens longas tem que…?
Fiz algumas viagens aqui perto, viagens de feriadão, e aos poucos a bike foi se moldando, ganhando componentes mais específicos, até ficar com uma configuração cada vez mais característica para cicloturismo “longo”…

[Fotas primeiras viagens]

Como na época eu estava estudando pra “mudar de área”, resolvi pedir demissão e aproveitar os três meses de férias da faculdade para viajar, exatamente como eu via os - cicloturistas - famosos - fazerem - (bom, não exatamente, mas na minha cabeça…).

[Fotas da viagem]

Nessa viagem, que foi de ida e volta a Minas Gerais, passando por lugares aleatórios, foi que conheci minha esposa - e meu enteado - e um ano depois eles vieram morar comigo. Dali em diante, a bike que era de touring/trekking passou a ser family-bike e mula de carga, com vocação especial para fazer rancho no super - com alforje e tudo. Muito fui em passeios noturnos com a minha esposa na bike (que era minha e virou) dela, e o guri na garupa.

[Fotas family bike]

A última fase, que dura até hoje, é a de commuter. Depois que comecei a ir trabalhar de bike todos os dias, essa é a bike de escolha nos dias de chuva, ou quando tenho que fazer um frete. Dali que veio a necessidade de fazer luzinhas fortes para ser visto de noite e de dia, porque o trânsito de Poa tá foda…

Depois de ter gasto tanto e andado tanto com essas peças de boutique, e antes do review peça-por-peça, algumas conclusões:

  • Vale a pena comprar peças que são caras mas duram muito, pois o custo se dilui ao longo de muitos anos;
  • Só porque a peça é famosa não quer dizer que ela não vai ir se desmanchando com o tempo. Não existe “eterno” nem “perfeito” nessa área. O que existe é peça que dá margem a ser consertada, e peça com fábrica séria por trás, pra te dar suporte caso seja necessário. Só que tem que ficar claro, independente do valor investido: Tudo. Pode. Dar. Problema. (e geralmente dá, se o cara usa);
  • Os alemães podem ser ótimos em engenharia, mas são péssimos em design. Ergonomia então, é algo que parece não existir pra eles. Mas pode ser que eu seja exigente demais;
  • O que mais quebra, dá pau, rasga e se desintegra é tudo e qualquer coisa relacionada a fixar e carregar bagagem na bike: parafusos de prender bagageiro, o bagageiro em si, fixações dos alforjes e bolsas, alforjes e bolsas propriamente ditos;
  • Nada que funciona com eletricidade (faróis de dínamo, por exemplo) é confiável.

Reviews

Cubo traseiro Rohloff

Cubo com 14 marchas internas. Por fora, é uma pinha só. Por dentro, são várias engrenagens planetárias em banho de óleo. A troca de marchas é feia por um grip-shifter no guidão. Entre todos os modelos existentes de cubos com marchas internas, este é o que tem maior quantidade de marchas, e é tido como o mais durável e mais confiável, sendo especialmente indicado para situações extremas, como viagens por regiões remotas.

Pontos Positivos:

  • Todas as vantagens de uma single-speed:
    • Corrente sempre longe do pneu - não suja tanto;
    • Limpeza da relação é muito rápida e faz pouca sujeira - igual a uma single-speed;
    • Pinha muito mais durável do que pinhas cassete (maior espessura, material melhor);
    • Libera espaço no guidão, pois não precisa de trocador à esquerda;
    • Menos tralha no quadro - sem câmbio traseiro nem dianteiro, somente uma coroa no pedivela;
  • As flanges altas deixam a roda muito forte - nunca quebrei um único raio em dez anos de uso contínuo;
  • Dá pra trocar as marchas parado no semáforo;
  • A indexação fica no cubo, não na alavanca, e os cabos não são puxados por mola. São dois cabos, um que puxa num sentido, e outro no outro. Portanto, quando a gente sente o “click”, é porque a marcha já foi trocada, o que causa um estranhamento (até hoje, pra ser honesto);
  • Manutenção mínima: troca de óleo anual, procedimento que dura poucos minutos e não requer habilidades mágicas;
  • Depois de todos os tipos de pauleira imagináveis, não apresenta nem sinal de folga. Pelo contrário, quanto mais eu ando, mais “redondo” e amaciado ele fica, pois as engrenagens tendem a se “auto-polir” com o tempo, by design, e ele vem bem justo de fábrica.
  • Empresa responde e-mails, dá a real e não esconde o jogo. Não têm muita frescura quanto a garantia, porque eles sabem que tu vai mexer, que tu vai esquecer de trocar o óleo, que tu vai andar com 200 quilos na bike, que tu vai entrar no mar pedalando… Se der problema, eles vão tentar resolver.
  • Usando uma relação 46 x 16, eu tenho a mesma amplitude de marchas de uma bike de 24 marchas com coroa 46x36x26, e eu posso reduzir isso ainda mais com uma coroa menor (já usei 39), embora com isso perca velocidade final. Acho que depende de quanto peso tu vai levar na bike, por causa das subidas.
  • Normalmente, ao trocar a corrente, ela não fica pulando, mesmo que a corrente velha estivesse um pouco passada.

Pontos Negativos:

  • Troca de marchas é desconfortável - precisa girar bastante o grip-shifter. Deveria existir outro método de usar o cubo que não fosse aquele shifter, ou até comando eletrônico. O Shifter rapidamente perde a sensação de “novo”, ainda mais se pegar chuva e barro, e dali pra frente só piora;
  • A parafernalha externa ao cubo é engronhenta e potencialmente sensível; Trocar os cabos de câmbio requer prática, habilidade e sangue frio. No modelo CC, existe o cabo mais fino (não é o padrão de cabos de câmbio), que tem que ser dado X voltas ao redor de um miolinho… Para ter menos trabalho, há outro modelo com uma caixa de redução externa, mas isso resolve um problema criando outro, em minha opinião;
  • Contínuo vazamento de óleo, que deixa o entorno do eixo sempre meio “baboso” e cheio de fuligem preta;
  • Peso fica concentrado na roda traseira, se comparado com sistemas de câmbio normal.
  • Não é tão eficiente, em termos de rolagem, quanto sistemas de roda livre normais. Ele chega até a girar o pedivela junto, quando empurra a bike. Para quem gosta de performance imaculada, isso é um problema;
  • Trocar o óleo não é difícil, mas tem que ser o óleo deles. Eles não autorizam o tipo de nenhum outro óleo, por risco de danificar peças plásticas que existem dentro do cubo, etc.
  • Encontrar peças pode ser um problema. Eu tenho sorte de que o único representante Rohloff da América Latina, que é a Teutobike, está a poucos minutos da minha casa. Mas não é mais que um acaso.

Manutenções/problemas que já tive:

  • Já troquei o óleo umas dez vezes, normal;
  • Já tive vazamento nas vedações laterais. Entrei em contato com a fábrica, eles me orientaram sobre o que era necessário fazer - trocar retentores; Fiz a mão com a Teutobike, fui até lá, paguei os retentores, e eu mesmo fiz o serviço com uma ferramenta específica. Resolveu o problema do vazamento horrível, mas mesmo assim o cubo dá aquela babadinha constante - ele é assim, segundo o pessoal da fábrica;
  • Depois de uns 20.000 km, a pinha gastou. Ainda funcionava, mas estava horrível. Comprei outra e eu mesmo troquei, na Teutobike. Ficou muito melhor! Continuo usando essa mesma pinha;
  • Uma vez, durante um passeio, troquei tudo-de-uma-vez-só para a marcha mais leve, mas como usei muita força, o cabo esticou demais e ESCAPOU do engate. Somente por acaso, e com muita demora e dificuldade, achei duas chaves allen 2mm pra abrir o engatezinho, enfiar alguns fios da ponta desfiada do cabo dentro de um orifício minúsculo, e seguir o passeio. Achei uma falha de projeto ridícula para um componente com essa fama. Desde então tenho trocado de marcha de maneira menos cavalar.

Compraria de novo?

Talvez. Eu compraria esse um cubo de novo, pra ter, pois acho que na bike que ele está ele cumpre um papel compatível. Essa compra valeu, se pagou, e vai continuar em uso por tempo indefinido. Já montei outras bikes depois dessa, e nunca me passou pela cabeça usar Rohloff, tanto pelo preço salgado, quanto por inércia de montar a bike mais “normal”. Talvez um dia no futuro, com uma situação financeira mais folgada, eu comprasse para algum projeto específico, mas para única bike eu não recomendaria, para bike de alta velocidade eu não recomendaria também. Agora, bike que vai carregar peso, tomar pau, e ser usada como mula de carga, sem compromisso de eficiência ou velocidade, é uma alternativa sólida a ser considerada, e que tem os seus poréns.

Cubo dianteiro Schmidt

Os dínamos servem para alimentar os faróis da bike usando o a rotação da roda dianteira como fonte de energia. Existem dínamos tradicionais que são aqueles de antigamente, que encostam no pneu. Existem também versões mais modernas e melhores, onde as bobinas que geram eletricidade ficam dentro do cubo. Dentre esses, o mais famoso do mundo, de longe, é o Schmidt, inventado e produzido por Wilfried Schmidt, um engenheiro mecânico alemão que faz praticamente só isso até hoje.

Pontos Positivos:

  • Nunca mais sem pilha. Nunca mais sem farol. Nunca mais sem luz. Agora isso faz parte da bike. Permanente;
  • Cubo que não incomoda, não dá manutenção, nem tem como dar manutenção. Ele simplesmente está ali e gira e sai eletricidade. (exceto quando não - detalhes abaixo);
  • Ele produz MUITA luz, mesmo rodando devagar. Meu modelo (SON 28 klassik) é da época dos faróis halógenos (lâmpadas de filamento incandescente), então eles são tunados para atingir a produção nominal de corrente em velocidades bem baixas. Dependendo da configuração de farol, basta empurrar a bike que ele “liga”;
  • Ele é muito eficiente, tanto ligado quanto desligado. Quando ligado, ele gera um certo “arrasto”, mas de forma alguma isso incomoda quem está passeando ou mesmo fazendo um randonneur, e seria ridículo culpar qualquer desempenho “abaixo do esperado” à energia drenada pelo cubo. Eu diria que não é nem perceptível, embora seja real e significativo. Já com farol desligado ou desconectado ele roda tão bem ou melhor do que outros cubos normais;
  • A flange alta e bem afastada deixa a roda MUITO forte. Com este cubo também nunca quebrei raio, e não foi por falta de abuso;
  • Ele tem um acabamento polido que brilha escandalosamente, ainda mais quando limpo (coisa que só aconteceu quando era novo). Parece realmente uma peça de joalheria;
  • A fábrica responde os e-mails, e dá várias dicas de “tunagem” eletrônica, como construir o seu farol, que capacitores usar, etc. Nunca na vida que Shimanos e similares teriam essa postura. Nunca.

Pontos Negativos:

Nenhum.
Mentira…

Problemas que tive:

Eu fui o sorteado para ter um problema bem raro e bem problemático, mas o desfecho até que foi bom. Um belo dia, indo pro trabalho, percebi que a roda parecia travada. E estava mesmo, eu girava, e ela não dava nem meia volta antes de parar. Mas não eram os freios. Era o cubo mesmo. Quando voltei para casa, percebi que estava ficando cada vez mais pesado, até que ao chegar em casa, não conseguia girar o eixo do cubo nem com um alicate. E tinha ficado bem quente.
Mandei e-mail pra Teutobike e pra fábrica. A fábrica me explicou que até tal ano, uma das peças do cubo era de plástico, e poderia dar problema em circunstâncias específicas, e os novos já estavam vindo com a nova peça em metal, e a proposta foi de que eles me mandariam outro “com falha de acabamento” pelo preço de um conserto.
Desmontei a roda, levei o cubo na Teutobike - e fiquei bons meses andando com uma roda substituta, coisa que deu certo trabalho pra arranjar - ele foi pra Alemanha como de costume, levou o cubo na fábrica, me trouxe o outro. Não paguei o frete, paguei 120 reais para a Teutobike correspondendo ao conserto. Em troca, veio o cubo com “falha de acabamento”, mas juro que eu nunca vi falha nenhuma, o cubo brilhava que nem um diamante. Montei o cubo, e se comportou muito bem.
Em um segundo momento, resolvi pegar o cubo velho e mandar para um conserto mesmo. Novamente, ida e volta com frete “de brinde”, e me devolveram o cubo revisado e re-polido, brilhando muito, mas dava pra ver que era o mesmo pelas marcas dos raios e alguns arranhões.
Por isso que eu digo que quando a marca é séria, mesmo o produto que estraga vale a pena, pois hoje eu tenho dois cubos pelo preço de um-e-menos-que-meio…

Compraria de novo?

Sem qualquer sombra de dúvida, um retumbante SIM!! Compraria um para cada bike. Tinha que ser obrigatório por lei todas as bicicletas do mundo terem um dínamo Schmidt na roda dianteira.
O que ele é, isso sim, é caro, muito caro. Hoje passa de mil reais no Brasil. Se comprar direto, fica menos extorsivo, mas ele É caro de qualquer forma. Só que como ele economiza pilha e dura décadas funcionando, o preço por hora de uso tende a zero, com uma boa perspectiva de durar de fato várias décadas.

Freios Magura

Um dos primeiros freios hidráulicos inventados - antes dos freios a disco - foi o Magura HS-33, famoso por “amassar aros” devido à sua força hidráulica, e muito usado por mountain-bikers dos anos 90 que conseguiam comprar, e também até hoje por atletas de bike-trial.
Quando eu escolhi as peças para a bike, fiz questão de evitar freio a disco, por buscar algo mais “clássico”, então seguindo a linha de comprar as peças mais famosas, nada mais famoso para freio de aro do que os Magura HS-33.

Pontos Positivos

  • Acionamento hidráulico permite andar na chuva e no barro indefinidamente sem precisar trocar os cabos - é algo que eu sentia muito com v-brake, por andar preferencialmente na chuva: ter que trocar de cabos com frequência, ou conviver com cabos “duros”;
  • A balaca não vai ficando torta à medida que gasta, pois ela corre paralela. Existe um parafusinho no manete que a gente vai apertando à medida que a balaca gasta;
  • O sistema hidráulico é muito bem vedado, nunca vi vazar nem sinal de óleo em vários anos de uso, e nunca sangrei o sistema (nem pretendo).

Pontos Negativos

  • O freio não freia! As balacas originais são muito ruins, tanto secas quanto molhadas (não muda muito). O meu modelo veio sem a ferradura de reforço. Achei que fosse esse o problema e comprei ferraduras. Melhorou, mas nunca ficou tão bom quanto o que eu estava acostumado no v-brake. Eventualmente consegui botar balaca de poliuretano na frente, onde a frenagem era pior. Melhorou bastante, mas quando chove (ou seja, no caso de uso mais típico dessa bike) a frenagem dianteira fica ridiculamente fraca, perigosa até;
  • Alavanca é dura. Apesar de ela não ir piorando com o tempo, a mola do sistema torna a alavanca dura. Tem que fazer bastante força antes de começar a frear de fato, e é muito cansativo ficar parado numa descida ou subida, com a bike freada. Nem se compara com disco hidráulico, ou mesmo com v-brake bem regulado;
  • Instalação inicial requer nervos de aço! O freio vem com as mangueiras montadas, mas com um comprimento enorme. A instrução do manual é CORTAR as mangueiras no comprimento CORRETO, e SEM APERTAR A ALAVANCA, remover o toco que fica na pinça e trocá-lo por uma outra peça minúscula que vem no conjunto, e então dar o aperto com uma chave de boca 8mm. Quando eu fiz isso, eu cometi algum erro que não lembro, e por sorte consegui corrigir, mas foi muito, MUITO tenso, e isso que eu me considero alguém com habilidade mecânica muito acima da média. Não me ocorreu também levar numa oficina, porque eu acho que essa responsabilidade era minha, e a chance de dar merda seria total, praticamente colocar o mecânico numa roubada de propósito;
  • Ajustar a posição da balaca é bem chatinho. Tem que soltar quatro parafusos, girar o pistão dentro de uma bucha até achar a posição desejada, e apertar os parafusos sem que o alinhamento se perca. Geralmente isso demora e requer várias tentativas. Muito chato na minha opinião;
  • A regulagem de desgaste da balaca é muito limitada. Pra começar, como a distância entre os pistões é praticamente fixa, usar o freio com um aro muito estreito é praticamente impossível. Quando tive de fazer isso, todas as regulagens ficaram no máximo, inclusive a do manete. A balaca também gasta com uma velocidade perceptível, de forma que logo se chega ao fim das regulagens, e daí em diante a tendência é o freio ir baixando até o manete encostar no guidão, e ser necessária uma nova regulagem nas pinças;
  • Encontrar peças no Brasil é bem complicado. Pra achar as balacas de poliuretano, tive que pagar de frete mais do que o valor das balacas propriamente ditas, porque só tinha numa loja em São Paulo, e eles só trabalhavam assim. Entrei no site da loja hoje e o produto nem está mais em oferta… Aparentemente está começando uma representação nacional da Magura, mas tudo ainda está muito em construção, o que não me cheira muito bem, ainda mais para esse modelo de freio de aro, que tende a ficar obsoleto daqui a não muito tempo.

Compraria de novo?

Nem sonhando!
Em algum momento, essa bike vai voltar a ter v-brake, mas o HS-33 não é tão ruim que não valha a pena continuar usando ele, ainda mais com esse uso chuvoso da bike (prefiro os cabos sem manutenção, mesmo com essa questão da frenagem meia-boca na chuva). Caso eu troque de quadro, aí sim acho que o canal é freio a disco hidráulico, que tenho em outra bike que uso no commuting e amo de paixão, freia com um dedo, isso sim é qualidade de vida.

Bagageiro e Paralamas

Esses dois acessórios eu poderia revisar mais longamente, mas não acho que seja o caso. O fato é que, como tudo que se prende na bike, eles vão se sacudindo, se desgastando, se trincando, entortando, perdendo parafuso… Se tem uma coisa que eu não fiz com essa bike foi poupá-la do uso em qualquer condição, então eu diria que as peças sofreram o desgaste natural. Do bagageiro eu esperava um pouco mais de resistência nas soldas, várias quebraram, mas eu prendi com abraçadeiras plásticas grossas e ele continua sendo perfeitamente utilizável.

Compraria de novo?

O bagageiro eu preferiria um com o mesmo tamanho, mas da marca Tubus. Porém, se não encontrasse, talvez comprasse esse de novo, dependendo do preço. O fato é que não tem muitas marcas e modelos no Brasil, e essa é a marca que a Teutobike trabalha, ao menos por enquanto.
Já o paralamas, esse sim eu compraria o mesmo - a não ser, claro, que “aparecesse” um melhor, mas dessa largura acho difícil, sendo que comprei o P65 - 65 milímetros de largura - justamente pra botar pneu “canhão” e costumo andar seguidamente com pneus cravo nessa bike - já usei até pneus 2.35, e “deu”…

Outras historinhas da bike

Uma coisa que não ajudou muito na durabilidade de componentes é eu ter sido atropelado por Ricardo Neis aquela vez, então em especial o paralama traseiro e o bagageiro nunca mais foram os mesmos…

Uma vez essa bike caiu de cima de um carro a 90 por hora, na BR 116 em Canoas, mas “só” entortou o guidão, destruiu o aro traseiro, e entortou o dianteiro. Tudo isso foi corrigido no mesmo dia e a bike já voltou a rodar no dia seguinte, graças a Deus ninguém foi atingido por essa merda - que “parou” quando bateu numa parada de ônibus, conforme testemunhado pela minha esposa que estava no carro - eu felizmente ia de carona mais à frente…

O quadro já quebrou uma vez - logo à frente do eixo traseiro, no lado direito, entre a gancheira e o tubo - levei para soldar “como sempre”. As duas orelhinhas do bagageiro traseiro já quebraram, uma de cada vez, e em ambas as vezes mandei soldar de volta.

O canote, por causa de uma única noite na chuva, emperrou de uma forma… Os quadros GT de cromoly são famosos por isso. Andei anos sem blocagem, e nada de soltar. Quase me matei fazendo força em casa, e nada. Só o Macedinho conseguiu, na base do maçarico, e isso que tem um toco de canote lá no meio do quadro ainda. Mas pelo menos agora eu consigo regular a altura - de um canote novo que eu tive que cortar um pedaço, pra caber.

Antes da viagem para Minas, uma amiga me deu uma pulseira de macramê. Disse pra ela que ia amarrar no toptube para dar sorte. Fiz isso e andei anos com ele ali, sagrado, deuzolivre ele sair dali. Depois que arrebentou, botei dentro da pochete de ferramentas, e está lá ainda junto com outro “amuleto” que outra amiga deu. Um dia na Massa Crítica a filha do Sgarbossa me deu uma florzinha minúscula de plástico, que eu na hora prendi na bike e tá lá até hoje. Deuzolivre-ninguém-encosta-na-minha-florzinha-ali. Eu acho que, mesmo sendo cético como sou, nunca é demais. Que essa bike já escapou de várias, já escapou, então deixa os amuletinho lá.

Conclusão

Eu não sei até quando vou usar esta bike. Tem muitas horas que eu odeio ela, odeio mesmo, olho e fico com raiva, mas tem muitas outras horas que eu subo, pedalo e penso “que bicicleta boa”. Pra mim, que não tenho carro, faz toda a diferença ter uma bike TODA equipada, mesmo sendo um trambolho, porque tem coisa que da pra fazer com um trambolho desse. Certamente enquanto eu não tiver motivos fortes para desmontá-la, ou dinheiro sobrando para comprar outra muito melhor para os mesmos tipos de uso (uma Surly?), ela vai continuar em atividade. O fato é que nenhuma dessas situações tem qualquer chance de acontecer no momento, então provavelmente esse cafão ainda vai rodar muito por aí comigo, assim espero!