Saturday, February 10, 2007

Dia 68 - Curitiba-PR - 4.020km (120)

E aí, Galera

Deu pra ver que não estou mais com muita condição (nem saco, para falar a verdade) de descrever minuciosamente meu dia a dia na viagem. Creio que isso seja efeito e estar correndo contra o tempo para chegar logo na praia para o carnaval, e em seguida em casa para o começo das aulas em março.

Lá em Echaporã, logo depois de sair da LAN, fui tentar tomar uma Coca-Cola, mas ela desceu com dificuldade, estava me sentindo quente, com sono, podre, enfim. Fui pra pousada e pedi algo gelado para tomar, mas o cara me deu um suco de laranja, cenoura (!) e água de coco, e estava morno! Eu tomei meio copo, larguei ele ali em cima de qualquer jeito, o que o cara certamente considerou uma grosseria, e fui correndo ao banheiro, onde logo vomitei. E vomitei tudo: pão prensado com bife, café, picolés, sorvete, tudo regado a uns dois litros (sem exagero, foram quatro generosas chamadas no Hugo) de líquidos rosados. Pronto, agora eu estava melhor, mas piorei rápido, por estar cansado, com sono e sem nenhuma fonte de energia no bucho. Deitei para dormir, e dormi mesmo, com ventilador em cima de mim, entre ondas de calor e calafrios por causa da febre. Quando mais tarde decidi que deveria comer algo e dormir definitivamente o resto da noite, bastou levantar (depois de muito preparo psicológico) para já ficar tonto, fraco a incapaz de ficar sequer sentado: deitei no corredor, e fui esperando melhorar. Entrei na casa do tio do hotel, que continuou com aquela expressão de estar sendo invadido (a esposa então...), mas ao mesmo tempo dizendo que eu poderia pedir o que precisasse... Pedi um copo gigante de água gelada, açúcar e sal, e fiz eu mesmo meu soro caseiro, o qual tomei em 0,37 segundos e me senti imediatamente melhor. Dali, por sugestão prontamente atendida por mim, feita pelo cara do hotel, fui buscado por um veículo do hospital para tomar um soro.
Fui muito bem atendido no hospital, onde me espetaram aquela borboletinha no braço (que desagradável...), e fui abandonado no escuro com glicose, soro fisiológico, bromoprida para o bucho, e uma garrafa de soro de reidratação oral bem geladinha. Uma hora depois estava já saindo caminhando. Comprei dois Fandangos e dois Gatorade (sim, sódio, carboidratos, nada de germes, e água gelada, tudo que eu precisava pra dormir).

Dia seguinte, sábado, acordei melhor, mas não muito. Estava dividido entre ficar ali, naquele local sem recurso, ou ir adiante lentamente, para tentar achar refeições e estadias melhores. Após café da manhã levíssimo, almoço suficientemente nutritivo (ambos no hotel) e um fandangos com gatorade de tarde, saí pedalando às 15h em direção a Tarumã ou Florínea, cidades dentro do meu alcançe naquela tarde fresca mas ensolarada, ou vice-versa. A maldita estrada era uma retona no estilo montanha-russa, alternando 50km/h com 8km/h incontáveis vezes. Passei por Assis, onde tomei um Energil Sport, depois Tarumã, onde tomei água com gás, e decidi ficar em Florínea. Ao chegar lá podre com 80km rodados, descobri que lá não tinha hotel.
Segurando a decepção, encarei os 35 restantes durante a noite, até Sertanópolis, onde cheguei pouco antes das dez da noite, graças à estrada boa com acostamento, nada de buracos ou surpresas. Lá, após ligar para a Natália, minha futura anfitriã de Londrina, fui abordado por um rapaz chamado Michel, que acabara de voltar de uma viagem de 16 dias a Montevidéu (ele foi até lá em 16 dias, tem louco pra tudo), e me convidou para jantar com a família dele na lancheria, e depois dormir na casa dele ali perto. Claro que aceitei, e embora tenha comido apenas algumas garfadas de arroz e uns pedaços de churrasquinho, tomei perto de um litro de coca. Que beleza.
Apesar de muito bem acomodado, custei a dormir, acho que por causa da coca, que tem o efeito estimulante, má idéia para a hora de nanar.

Dia seguinte, domingo, acordei mais tarde que deveria, tomei um belo café, me despedi depois de algumas fotos, e me mandei a Londrina, o tão sonhado próximo destino. No caminho, entre plantações de soja e sobe e desce constante (ao menos não era tudo reta), encontrei três ciclistas de Ibiporã, que foram treinar em Sertanópolis e já estavam voltando para casa. Fomos indo em um ritmo forte (demais até, para um convalescente), conversando e trocando idéias. Depois de nos separarmos, segui sozinho de Ibiporã até Londrina, já podre de cansado, ainda por cima o caminho é cheio de subidas. Cheguei meio-dia e meia na casa da Natália, amicíssima do Gonzalo, amicíssimo meu. Ela me recebeu super bem, e os próximos muitos dias foram uma beleza. Cheguei lá desidratado, depauperado energeticamente, podre mesmo, sem nenhum ânimo físico, magro, no bagaço, exterminado, imprestável. Fiquei por uns dois ou três dias com diarréia consistente (a diarréia era consistente, as fezes não...), sem apetite e com um sono cavalar. Era perceptível a progressão diária, de um farrapo humano para, novamente, uma atlética máquina de pedalar, com músculos e fígado repletos de glicogênio, pele túrgida e olhar vivo. Tudo isso graças aos intermináveis papos de altíssimo nível intelectual sobre todos os assuntos, que tínhamos o tempo todo, às brincadeiras com o Camilo, filho dela, que com quatro anos faz coisas mais avançadas do que eu fazia com seis (são outros tempos...), e adora assistir várias vezes seguidas filmes como Carros e Bob Esponja: O Filme (este último, presente meu). Ele tem uma bicicleta, e está já andando com uma rodinha só. Tem futuro, o rapaz... Ah, e é claro, fundamental para a minha recuperação foi a comida espetacular da Sônia, a senhora que arruma a casa da Natália, e tem uma mão abençoada para mandar um rango malandro. Realmente, umas "férias das férias", uma estadia que vai deixar saudades, duvido SPA melhor. Vale um alô para a irmã Amanda e sua filha Yara, e o avô Mário, outros membros da família que tive o prazer enorme de rever ou conhecer.
Durante minha estadia por lá aproveitei e visitei a fábrica da VZAN, onde conversei com o José Orlando, gerente de produção. Ele me mostrou várias máquinas, desde as que fabricam os aros (a coisa é rápida, eles fabricam muuuuuuitos aros por dia!), até as que montam rodas (coisa robotizada, que monta, centra e pré-tensiona as rodas, semi-automaticamente, ficando em um padrão de excelência mesmo), e, recentemente, os cubos, que são de alumínio forjado a frio com forjas 3D, aguardem, garotos, em breve a VZAN vai invadir o Brasil com novos produtos a um preço inacreditável SEM SER COISA ORDINÁRIA!

Devido a razões cronológicas, geográficas e logísticas, saí de lá na sexta-feira à tarde, dentro de um ônibus da Viação Garcia com destino a Ponta Grossa. Sim, profanei minha viagem com uma viagem de ônibus, e não estou nem aí. Foi a melhor escolha: economizei 300km de relevo bem ondulado, estrada com poucas paradas possíveis, e evitei a fadiga. Me ajudou a fazer a mão do desmanche e carregamento da bici e da carga o Tyago Yoshida, que conheci em Londrina. Ele também é cicloturista e fez uma viagem bem longa (7 meses) pelo norte e nordeste do país. Grande cara. Dormi em um hotel em Ponta Grossa, meio caro, mas o rango foi ótimo e barato, com destaque para a Batata-Salsa, um tipo de batata que parece mandioca e tem um sabor indescritível. E ótimo!!

Hoje, sábado, saí de manhã de Ponta Grossa depois de um ótimo café da manhã, e não sofri muito para chegar em Curitiba, com várias descidas, subidas possíveis, muito bem-vindas curvas, e até um encontro casual com três ciclistas de Londrina (!) que estão indo passar o carnaval em Florianópolis. Estão acampando em qualquer lugar, com mochilas nas costas, bagagem coberta com sacos plásticos... É, equipamento não é nada, vontade é tudo! Fomos um trecho papeando, tiramos umas fotos, e era isso, lá foram eles. Eu segui serpenteando entre alguns pedidos de informação, até a casa da minha prima Rosângela, sendo recebido pelo marido dela, o Fernando, e os filhos deles, Bernardo e Fabricio. Já acomodado, banhado, alimentado, blogado, vou lá pra falar com eles, senão vão me tirar pra antisocial, aqui na frente deste micro.

Na medida do possível, torno a escrever, mas acho que a coisa vai ser assim, mais sintética e esporádica. Um enorme abraço a todos, amigos!!

2 comments:

Varda said...

Que bom que deu sinal de vida.

Essa história de diarréia é fogo, passei por uma esses dias tb, meus pesames.

FarAmiR said...

Ia ser admirável uma viagem assim, enorme e cheia de aventuras gastronômicas não ser permeada por disfunções gastrointestinais.. Quando voltar a sua cela urbanóide no Rio Grande, avise

Abraço, até breve