Monday, January 15, 2007

Dia 42 - Itaúna, MG - 2.660km (4)

Caros colegas

Acordei cedo mesmo, às cinco e quarenta, para me arrumar para ir para a trilha. Como fui dormir cedo, não foi difícil, e a emoção de uma pedalada aumenta a disposição, também. Me surpreendi positivamente com a descoberta de que o café da manhã era servido a partir das seis, então pude poupar meus mantimentos comprados na véspera - iogurte, cuca e roscas de polvilho. O café da manhã do hotel era bem completo, com molho de cachorro quente, banana, roscas, café com leite, pão... Comi o suficiente para pedalar até a hora do almoço, terminei de me fardar e separar a tralha, e fui até o posto de gasolina, chegando lá às seis e meia, que era o horário combinado. Logo já chegaram aos poucos os outros ciclistas, e enquanto aguardávamos vários se deitaram no chão, para cochilar um pouco.
A pedalada seria até o topo do Morro do Elefante, na cidade vizinha de Mateus Leme. Saímos pedalando pelo asfalto, fazendo várias voltinhas por dentro da cidade, atravessando pontes estreitas e trilhos de trem. Ao chegarmos na estrada de chão, inicialmente plana, muitas poças de água enlameada, das quais o grupo ia se desviando, sempre pedalando em um ritmo bom, sendo necessário também desviar dos respingos daqueles que escolhiam um caminho com muitas poças de água. Algumas paradas para esperar após as primeiras subidas, iniciamos a parte com morros mais íngremes, pelo meio de várias fazendas e sítios da zona rural. Havia muitos mata-burros ali, e era necessário cuidado porque em Minas a parte central do mata-burro não é gradeada, e quem passar por ali cai com bicicleta e tudo dentro de um enorme buraco. A noite de sono e o café reforçado fizeram efeito, pois nas subidas eu me sentia muito bem, forçando bastante e várias vezes andando bem na frente. Nas descidas, muita emoção devido a muitas erosões cheias de pedras, e curvas com pouca visibilidade. Eu, estando de garfo e pneu sem garras, até que não deixei de abusar da sorte, mas nada de mau aconteceu, ainda bem. A última subida antes de Mateus Leme era bem íngreme, e a última descida era mais íngreme ainda, com a maior parte do trecho coberta com calçamento. Chegamos a Mateus leme com uns 30km rodados, às onze da manhã, cansados, famintos e com o saldo de um tombo, um câmbio e uma gancheira empenados, um raio estourado e alguns pneus furados (nada disso aconteceu comigo, ufa!). Paramos em uma padaria onde eu tomei suco de pêssego em lata, Energil (um Gatorade genérico) e um pão de queijo. Os amigos tomaram e comeram de tudo, também, e depois de darmos um tempo sentados à sombra, fomos para o tal morro, que pode ser avistado da cidade, tendo 400m de altura da base.
Logo no início da subida, o Márcio (o cara que levou o tombo teve uma contusão na perna) desceu da bici e foi empurrando, acompanhado por outro amigo que não lembro o nome. O Juninho e o Sérgio se tocaram na frente, e eu fui indo pelo meio, pedalando em um ritmo relativamente forte, mas parando de tempos em tempos para descansar e esperar. Depois de várias rampas íngremes, curvas fechadas e até trechos de calçamento, começou uma garoa que depois virou uma chuvarada, com vento frio, que me acompanhou até o topo, onde me abriguei junto com o Sérgio e o Juninho, que haviam chegado bem antes, sob a marquise de uma capelinha. Logo a chuva deu uma aliviada, mas não foi possível ter uma vista panorâmica legal de lá, apesar de que mesmo a vista parcialmente encoberta que tivemos já era bastante bonita. Lá de cima deveria ser possível avistar até Belo Horizonte, droga... Não há de ser nada, a pedalada e a companhia valem à pena. Depois de retirarmos o câmbio do Márcio (que o jogou no lixo) e encurtarmos a corrente, iniciamos a descida, ainda abaixo de chuva. Me aproveitando do chão úmido e dos dedos enrijecidos de frio (não estão acostumados com isso...), disparei na frente, fazendo curvas em alta velocidade e dando umas freiadas animais, isso sim é que é diversão. Parei lá no meio para esperar o pessoal, pois havia a entrada de uma trilha por ali.
A trilha, sugestivamente chamada Trilha do Rodo, começava com um trecho muito liso, de barro limoso, onde muita gente deu sua esquiada, alguns de bunda. Em seguida, a trilha se transformava em uma calha gigante (resultado de muito tempo sendo percorrida por motos, provavelmente), cujo piso úmido e cheio de raízes estava situado vários palmos abaixo do solo ao redor. A trilha ia serpenteando, e eu me sentia como se estivesse em um toboágua natural, onde ao invés de água e fibra de vidro havia lama, raízes, árvores e pedras, sempre em descida. Logo ali embaixo, saímos na estrada, que agora estava bastante escorregadia, o que rendeu tombo ao amigo cujo nome eu não lembro. Mais abaixo, entramos em outra trilha, mais estreita e escorregadia, onde foi minha vez de abrir o espacato por cima da bici. Vale lembrar que eu estava de paralamas, e isso tornava necessários alguns cuidados para não embolar tudo. Mas valeu a pena levá-los, pois fui o único a terminar o passeio com a bicicleta e a roupa sem barro.
Chegando de volta à cidade, com o corpo sujo e a alma lavada, o famindo Juninho nos levou até um restaurante, onde logo me acomodei em frente a um enorme prato cheio de saladas, massa, lasanha, torresmo, bife empanado... Comi pra caramba, e a comida estava verdadeiramente deliciosa, por um preço módico. O Juninho e o Márcio me acompanharam, sob o olhar espantado do Sérgio, que não entendia como era possível encher a pança antes de pegar a estrada de volta. Eu é que não entendo como é possível pedalar SEM encher a pança de nutrientes. Saindo dali, fomos a um posto de gasolina, onde enchemos as garrafas de água e colocamos óleo nas correntes, tomando o asfalto em direção a Itaúna, em um ritmo semi-forte, já que nosso amigo Márcio estava com uma marcha só. Ao chegarmos, já na cidade, uma grossa pancada de chuva. Paramos sob uma marquise para nos despedirmos do Márcio, e aproveitei para entrar sob uma calha, tomando um banho para tirar o suor, a podridão e a canseira do corpo, sob o olhar de espanto dos amigos. Dali, fomos seguindo, e o Sérgio me apontou a direção do hotel. Antes de chegar ao hotel, ainda parei em um posto de gasolina, onde peguei emprestada uma mangueira para lavar as rodas e a corrente da bicicleta, assim como as luvas.
Chegando ao hotel, um longo banho, durante o qual lavei todas as roupas. Depois do banho, algum tempo torcendo e estendendo tudo ali por dentro, por cima da bicicleta, na cabeceira da cama, em um cabide, para depois ir à LAN escrever bastante, papear e olhar a previsão do tempo. Jantei no Sandoval e fui pro hotel, desistindo de ir ver o movimento na Prainha, pois estava cansado e preferi ficar vendo o resto do Fanático Show da Vida e do Big Bronha Brasil antes de nanar.

Agora, veremos se aparece alguma outra atividade emocionante por aqui, pois confesso que o instinto de levantar acampamento e sentir novamente o vento na cara e o peso dos alforjes está aflorando com força. Isso vicia, minha gente! Abraço a todos!

7 comments:

Anonymous said...

Pois é caro Helton, estranho "te ver" assim, tão parado...mas deve fazer parte do dialético processo...é bom refletir um pouco, pra depois deixar ser levado pelo eterno retorno. Abraço, vamos fazer um evento na volta, quem sabe, tipo stb world travell - pode ser lá em casa se quiser, poderia fazer pizzas para a galera.

Gonzalo.

Anonymous said...

E ai rapaz...

Saudades das nossas conversas e das nossas bandas...

Te cuida...
E continua fazendo uma maravuilhosa viagem...
Espero q esteja sendo otimo...

Grande abraço
Ed

Varda said...

e as fotos ?

kd as fotos ?

Varda said...

ah, e o america latina biker´s é o que ? um site ? tens o link ?

Um abração !!

Anonymous said...

Helton,

Esses teus textos enormes... Li o suficiente para ficar feliz de saber que estás bem.

Nós por aqui estamos com saudades.

Grande abraço,

Grace!

Anonymous said...

Hello, anybody out there? Não querendo cobrar, mas acho que os leitores anseiam por novo POST! Mais de uma semana, já. Qual será o próximo capítulo? :)

Como dizia aquela frase que eu acho horrível, "tu és responsável por aquilo que cativas". Cativou, agora escreve mais, pô! hehe

Abraço!

Varda said...

é, o Igor tem certa razão no reclame, não podes mais passar tanto tempo sem contar novidades.