Friday, January 05, 2007

Dia 32 - Taubaté, SP - 2.041km (85)

E aí, Galera

Vou resumir muito rapidamente os eventos que ocorreram durante o restante da minha estadia no Dorival, em São José dos Campos:

No sábado, acabei indo dormir às cinco da manhã, grudado na internet livre e ilimitada que há tempos eu não tinha, pesquisando sobre engrenagens epicíclicas e coisas do tipo.

Acordei no domingo já na hora de ir almoçar na casa da mãe da Sônia, sogra do Dorival (obviamente...). A casa lá é até grande, em um bairro residencial de São José, e o almoço foi muito bem servido: estrogonofe (com cogumelos e tudo), saladas, refrigerante. Uma beleza. Nesse momento conheci o Diego e sua namorada cujo nome esqueci (que feio!), ambos ciclistas viciadinhos, trocamos muitos assuntos sobre pedalar em geral, Estrada Real (que ele fez toda), as características do povo de cada estado, etc. Depois do almoço, voltamos eu e o Dorival para casa, onde fiquei um tempão assistindo TV (ou tentando, já que nas TVs a cabo, a quantidade de canais torna paradoxalmente mais difícil ainda encontrar um bom programa). Nesse meio-tempo,visita relâmpago do outro filho, que desse até o nome eu esqueci, que dirá da esposa dele que estava junto, um simpático casal, com certeza. Em algum momento, saímos para fazer algumas compras, e à noite fomos lá para a casa da sogra novamente, onde jantamos lentilha, tender, chester, e outras invenções comerciais que rimam com esses dois pratos. Sem esquecer dos ótimos vinhos e champagnes presentes. Nada como ter companhias de classe... Nessa aí acabamos indo dormir beeem depois da meia-noite, obviamente depois de mais um translado de caminhonete.

Na segunda, feriado, obviamente o almoço não seria em outro local que não... a casa da sogra!! Lá fomos nós de caminhonete, e dessa vez estava então toda a família reunida (o irmão inominado não pôde comparecer à janta). Um clima de harmonia familiar que me servirá de exemplo para sempre! O almoço se constituiu pela até então desconhecida por mim BACALHOADA, preparada por ninguém menos que a quase nonagenária sogra do Dorival, mãe da Sônia. Realmente, a experiência faz comida boa, pois a bacalhoada estava divina, virei fã instantâneo, tanto que repeti duas vezes - sob o olhar incisivo e admirado da autora da iguaria, que provavelmente deve ter ficado surpresa pelo fato de uma quantidade significativa de seu manjar estar sendo sumariamente devorada por um hirsuto intruso multicor. Alheio a isso, com a desenvoltura de quem não pode se dar ao luxo de desprezar oportunidades de reabastecimento energético, agradeci e elogiei insistentemente e com a máxima polidez possível a alguém com roupas amarrotadas e não-combinantes, e em seguida fiquei um longo tempo descansando no sofá, lendo a ótima revista "viagem & companhia", ou algo assim. Como não podia deixar de ser, depois de algum tempo fomos todos para casa, onde novamente se repetiu o ciclo comer/ver TV/fuçar na internet, até a hora de tomar banho e dormir.

O dia seguinte teve como único ponto digno de nota a tentativa frustrada de, durante a tarde, ir de bicicleta à fábrica da Pro-Shock, que fica no bairro vizinho, a menos de 1km da casa do Dorival. A fábrica estava em férias coletivas, com as portas bem fechadinhas. Demos mais uma volta no bairro, para destravar as pernas. As minhas não estavam ainda totalmente destravadas. Ao voltar para minha bicicleta, após um rápido giro com a muito confortável bicicleta do Dorival, senti como se estivesse usando o selim do Sheldon Brown (http://www.sheldonbrown.com/real-man.html). Preciso rever meus conceitos...
À noite, pra não dizer que não houve outras atividades interessantes no dia, assisti ao filme A Noviça Rebelde. Espero que, ao chegar a Minas e entrar nas trilhas, eu também possa cantar:

"The hills are alive..."

Acordei na quarta não tão cedo quanto deveria, já tendo feito contato com seu Arnaldo, proprietário do Mirante Naturista, em Igaratá, minha próxima parada. Tomei um café sutil, me despedi de meus simpaticíssimos e extremamente gentis anfitriões, a quem obviamente (na condição de cansado/apressado) não agradeci e não fui tão gentil quanto mereceriam (em analogia ao que dizem os maridos: "qualquer salário seria uma ofensa para esse serviço tão bem feito que minha esposa faz, então é melhor nem pagar"). Se chegarem a ler isso, Dorival e Sônia, um abração!!

Wanderlust canino...
Tomei o rumo de volta pela Dutra, me equilibrando no acostamento por vezes estreitos e disputando espaço com os "Masters of the Road" e suas carretas de dezoito rodas, sem tantos sobressaltos, mesmo com pancadas consistentes de chuva. Ao chegar à rodovia Dom Pedro Primeiro, 27km, um Charge e muita água depois, peguei à direita, entrando na estrada menos movimentada, com ótimo acostamento, e com longos e amplos trechos de descida e, principalmente, subida. A estrada de terra a Igaratá foi uma montanha russa à parte, e uma ótima oportunidade perdida de fotografar minha bicicleta em um "local remoto" fajuto, já que a estrada era estreita e sacolejante, embora simpática.
Chegando ao Mirante já quase na hora do almoço, que é servido às duas, rapidamente me apresentei, e a perspectiva de acampar foi felizmente substituída pelos anfitriões pela de ficar em um aconchegante chalé.



Tomei meu banho e, pela primeira vez na viagem, não precisei abrir o alforje esquerdo, pois ali, enfim, eu podia sair do banho nu, sair À RUA nu, correr pela grama nu, plantar bananeira, tomar banho de piscina, jogar sinuca, fazer fotos paisagísticas, cumprimentar as pessoas, sentar à mesa e almoçar, tudo isso nu!! Ah, nada como ser naturista. A canseira até passa mais rápido com toda aquela superfície cutânea exposta ao ar fresco, às gotas remanescentes de chuva, à umidade que brota da grama e, no fim da tarde, aos tímidos raios de sol que o chuvoso verão paulista ainda consegue proporcionar. Almocei em companhia da dona Ivani, do seu Arnaldo (que acabava de chegar da cidade e foi rapidamente trocar de roupa, ou seja, tirar a roupa), e de um casal de turistas, ou mais que isso, NAturistas, o Aldo e a Delma.



Depois do almoço, ficamos um longo tempo jogando esnuque, jogo conhecido no estrangeiro como snooker ou sinuca. Depois disso, um banhinho de piscina e algum tempo secando ao sol. Ler algumas Caras também participou da programação. Tudo para evitar a fadiga.
O Mirante é um lugar alto, que fica às margens de uma represa. Tem esse nome porque o restaurante panorâmico oferece vista para toda a tal represa. Abaixo do restaurante, há sala de jogos e TV com sofás, revistas (só Caras), CD player com rádio FM, e outra sala com DVD. Abaixo disso, ainda há piscina aquecida e sauna, que estavam desligadas. Na rua, ao lado do restaurante, piscina com algumas cadeiras/espreguiçadeiras plásticas, e mesas com guarda-sol.



Em uma parte mais alta do terreno, alguns chalés com banheiro, área de camping, play-ground (pequeninho), e espaço para vôlei e futebol, na grama. A vista de lá de cima é de quase 180° para a represa, constantemente cruzada por lanchas e jet-skis, que deixam um belo desenho nas águas espelhadas da represa, onde é possível banhar-se vestido, apenas. Realmente uma vista revigorante.
Depois de evitar bastante a fadiga, uma gostosa janta, mais sinuca e caminha, depois de outro banho de chuveiro.

Acordei, ou melhor, fui acordado, perto das dez horas para tomar café. Depois do café, ao qual me dirigi com muita dor nas panturrilhas, provavelmente por, no dia anterior, correr escada acima de pés descalços, e depois correr pela grama como um antílope histérico (por pressa e empolgação, não por devaneios estéticos), fiquei até a hora do almoço estirado no sofá da sala de jogos, lendo uma Caras atrás da outra. Gosto mais da parte das citações, da etimologia, da oportuna análise de comportamentos amorosos anômalos feita por terapeutas da moda, e de ver as fotos das mulheres lindas que nunca vão dar bola pra mim. Depois do almoço, mais uns minutos (centenas deles) lagarteando por aí, depois a janta, depois TV, depois caminha. Vale dizer que o tempo ficou constantemente se alternando entre chuva cerrada e manchas de céu azul que não cumpriram a promessa de melhora de tempo.

Sexta-feira, hoje, acordei novamente perto das dez, e fui tomar café me esquivando dos pingos que ainda caíam, já fardadinho de ciclista de novo. Me empanturrei, e saí sob um céu já menos aquaticamente generoso, após ter me despedido do pessoal e ter ficado sem um puto tostão na carteira, e ainda uma dívida pequena com o pessoal do Mirante, pois mesmo tendo recebido a estadia como cortesia, um comilão ainda é capaz de esburacar seu próprio orçamento para tapar o buraco interno, bem mais urgente em sua reivindicação por ser preenchido.
A estradinha de terra pareceu mais curta e mais divertida, já que resolvi murchar bem os pneus para não ejetar os alforjes, e o trecho pela Dom Pedro I foi também mais suave, já que houve predominantemente descidas. De volta à Dutra, fui num ritmo bom até passar da cidade de São José, onde se concentraram os piores pontos, devido a pontes estreitas e saídas movimentadas.

Feliz 2007!
Almocei duas e meia, após reutilizar o truque de registar 55 reais no cartão de débito de um posto de gasolina para obter uma nota de 50 reais, um prato-feito que não consegui dar conta. Segui viagem, bem energizado mas já um pouco cansado, por uma sucessão de sobes e desces suaves, até Taubaté. Lá, fui direto aos Bombeiros, onde fui bem recebido, apesar de não ter conseguido pernoite devido a medidas de segurança decorrentes desses ataques do PCC e outros que os representantes da autoridade e das forças armadas têm recebido. Como bem disse o bombeiro lá, os bons pagam pelos maus. No meu caso, 20 reais, na Pousada do Viajante, que me foi indicada por ele, com instruções claras de como chegar a ela. Viva os bombeiros.
Chegando na Pousada, entrei com a bici no quarto, tomei banho no banheiro coletivo, até bem limpo, e fui no banco, na lancheria (café da praça, ou algo assim, meio caro, mas onde comi a melhor coxinha acompanhada da melhor batida de morango - de polpa - da viagem, até agora), e vim pra LAN.

E agora, chega de escrever, em breve, novas aventuras!! Abraços a todos e beijos às meninas.

2 comments:

Anonymous said...

Helton,

to vendo que está chegando ao Rio.

Estarei por aqui até dia 13 ou 14...

qualquer coisa me liga:

21 88017209

FarAmiR said...

Hehehe, hirsuto é foda.. Evitar a fadiga, em pêlo, já soa bem relaxante..

Abraço e não deixe balas te acharem por aí..