Wednesday, December 06, 2006

Dia 02 - São Francisco de Paula, RS - 126 km (63)

E aí, galera!

Ontem finalmente começei minha viagem, saindo de Porto Alegre em direção à Colina do Sol, no interior de Taquara.
O trajeto foi tranqüilo, a bici não incomodou, havia até um certo calor mas bem menor do que o de segunda feira. Saí às duas da tarde, com previsão de levar em torno de umas três horas e meia, devido ao peso e à quantidade de subidas. Parei algumas vezes no caminho para tomar líquidos gelados (chá enlatado, achocolatado em caixinha) . Em um posto de gasolina, os frentistas ficaram olhando a bicicleta, me olhando, eles sempre vêm fazer algum comentário curioso. Dessa um disse "freio bão, hein?", achando que era freio torpedo, hehe.


O trecho de estrada de chão (8 km até a colina) foi bem legal, mas a bolsa de guidão deixa a bike meio estranha. Andar sem as mãos, nem pensar, isso porque botei muito peso nela, pra ajudar a distribuir melhor o peso entre as rodas e aumentar a massa suspensa na dianteira, diminuindo impactos nas mãos, o que aparentemente funcionou muito bem. Já pra descer trechos íngremes no areião, com os pneus cheios como estavam, chega a ser uma temeridade!!

Lá chegando, passei rapidamente na portaria, onde a Tereza me atendeu, e fui procurar alguém no restaurante da colina, pois a Cleci, que me hospedaria em sua casa, não havia chegado ainda. Fui ao restaurante e não havia ningúém, mas no lago nadava um senhor, e eu rapidamente então, inspirado pela idéia agradável e necessária de um banho, tirei a roupa (lembrem-se, a Colina do Sol é um centro naturista, e este que vos escreve é um satisfeito neo-naturista*) e dei uma nadada por lá.



O lago foi construído artificialmente, tem uma parte cheia de areia da praia bem limpinha, grama, e em um canto mais afastado alguns juncos e plantas lacustres nativas.



A água é bastante limpa, tanto que me bastou este banho sem sabonete para ficar perfeitamente limpo.



Ao sair do lago, cumprimentei o tímido senhor nadador, que por sinal é americano, mora ali e fala muito pouco português, e fiquei ali secando, fiz um lanche com o pão, a copa (sem formigas), leite com chocolate (em pó, ambos), a goiabada... Bem mais tarde (como foi bom ficar ali ouvindo só o canto dos passarinhos e, ao longe, o metralhar das britadeiras nas pedreiras de pedra grês que abundam na região, parecia trilha sonora do filme Platoon) chegou a Cleci, que tem cabana ali e topou me receber. Segui o carro dela até lá, achando válida a sensação de pedalar de camiseta, sapatilha, pochete, SEM bermuda ou cueca, com uma canga amarrada ao selim. O Cristiano Hickel bateria palmas se me visse...
Lá chegando, tratei de arrumar minha bagagem, e logo em seguida jantamos, depois conversamos um pouco sobre viagens, naturismo, locais que vale a pena visitar e pessoas que vale a pena conhecer... A gata siamesa da Cleci, muito ativa e inquieta, apesar de bastante mansa e dócil, veio receber alguns carinhos (mas logo foi fazer outras coisas, indiferente...) e acabamos indo dormir bem cedo, ficando eu acomodado em um confortável colchão no chão, infinitamente mais aconchegante do que a espuminha que levo comigo, que ficou felizmente bem dobrada dentro do alforje.



No outro dia bem cedo (portanto hoje, quarta), acordo com um barulhão e vejo pela vidraça (elemento muito presente nas arejadas e luminosas cabanas da Colina) que os eucaliptos estão sendo sacudidos por um forte vento. Aos poucos me dou conta de que não é barulho de vento apenas, mas também de chuva das fortes. Isso arrefeceu bastante minha vontade de partir bem cedo de manhã, de modo que volto a dormir, levantando bem depois das nove e meia, tomando um café da manhã sem pressa, em companhia da Cleci que acabava de levantar. Aos poucos a chuva diminuiu, e eu fui arrumando a bagagem de volta na bici, com a certeza de que iria me ensopar na viagem mais cedo do que eu imaginava. Quando finalmente me pus em marcha, já caía uma garoa praticamente insignificante, peguei a estradinha até a portaria e saí novamente na estrada aberta.O trecho até o asfalto foi tranquilo, apenas algumas costeletas xaropes, o GPS me ajudou nas bifurcações, e o equilíbrio sobre a bici, apesar do guidão pesado, estava já praticamente normal. Em Taquara, parei numa padaria, comprei dois sanduíches de presunto, queijo e nata feitos com pão francês, e tomei um copo de leite com chocolate gelado.
O início da subida foi surpreendentemente tranqüilo, e apesar de eu estar com bastante peso, a pedalada estava rendendo bem, com uma velocidade de cerca de 15 km por hora. Mais adiante, notei que isso era efeito de um ventinho a favor, que ajudava na pedalada ao mesmo tempo que diminuía a refrigeração.



Da metade da subida em diante (são 38km entre Taquara e São Francisco, e quase tudo é subida, com uns 800m ou mais de desnível), apareceu uma neblina que chegava a ser, por vezes, quase um chuvisco, e nesse ponto eu já estava bastante cansado, sentindo falta de comida mais forte.



Parei em uma tendinha e pedi o Outro-Caldo-Preto-dos-Cães-do-Norte (Pepsi), já que infelizmente ainda não inventaram nada mais eficaz para restituir a capacidade pedalatória de um ciclista cansado. Segui a pedalada mais bem disposto, mas essa disposição não durou tanto assim.



Acabei chegando a São Francisco sob uma leve chuva, e por incrível que pareça não passou nenhum caminhão que pudesse ser "remorizado" na subida, exceto quando eu estava parado pra tirar uma foto, e achei que a foto valia mais do que uma insegura carona ao estilo bat-gancho.
Em São Francisco, fui direto aos Bombeiros Voluntários, onde rapidamente me informei sobre a localização da oficina de auto-som do Cleber (que é bombeiro e tb ciclista, a primeira vez que vi ele, sem saber que era o Cleber, foi há uns 4 anos na avenida principal de São Francisco, ele estava fazendo propaganda de um evento com uma caixa de som [e era equipamento bom!] que ele deu um jeito de prender na bicicleta! aparentemente, todo mundo conhece ele por aqui).

Cléber e o pai dele, que me receberam na casa deles, com direito a caminha confortável!
Lá encontrei o próprio, mais o Roque (irmão do Rodrigo Santos) e mais alguns malucos. Tomei banho e saí para fazer um lanche (xis carne com guaraná), ligar para a mama e vir à LAN para dar o ar da graça pra galera, já que - coisa que quase me deixou surpreso - recebi inúmeras manifestações de apoio, torcida, boa sorte e tudo mais, de quase todos os meus amigos.

Gostaria de agradecer em especial ao meu novíssimo amigo Tiago, que mesmo sendo um novíssimo amigo está dando uma força enorme, contatando uma galera do naturismo pelo Brasil para que me dêem apoio e pouso, e é claro que isso será de um valor inestimável. Só o banho no lago da colina ontem já me valeu o dia, que maravilha! Hoje mesmo o mala já me ligou umas três vezes, hehe.
Tiagão, valeu, hein!!

Um abraço a todos, e até breve!

* Este blog não será uma propaganda naturística explícita, nem local para publicar grandes detalhes sobre minhas atividades naturísticas, embora eu pretenda deixar uma boa impressão a respeito, para que as pessoas percebam as inúmeras vantagens da atividade naturista e busquem por si sós obterem informações a respeito e, se for o caso, ingressarem nesse recompensador estilo de vida. Também não virei naturista radical, o único rótulo que aceito e faço questão de receber, até o momento, é de ciclista, ou bicicleteiro mesmo.

2 comments:

FarAmiR said...

Mal começou e já parece muito divertida a viagem.. E agora ainda vai ficar como veio ao mundo pelos recantos do Sul-Sudeste do país.. SE cuida, abraço

Anonymous said...

Só bateria palmas se visse essa cena na Redenção, no domingo! Ehehehehe! Bom relato, sr. neo-naturista*!
(*onde está a legenda?!)