Saturday, December 23, 2006

Dia 19 - Eldorado, SP - 1.380km (85)

Galera, estes últimos dias foram os melhores dias que já tive em cima de uma bicicleta, portanto não tenho como transmitir, tanto escrevendo como fotografando, assim rapidamente, a grandiosidade que a vivência merece. Para não deixar os amigos sem notícias, coloco aqui muito resumidamente o que aconteceu, para que possa um dia editar o post com calma. Inspiração é desnecessária, é só lembrar que ela vem na hora.

Quarta de manhã saí da casa do Roberto e da Celsis (também não tenho como pôr em palavras como me receberam bem e me apoiaram) e tomei a estrada que vai a Adrianópolis, a BR-476.



São mais de 100km de curvas consecutivas, plantações de Pinus, morros muito ondulados e na maioria das vezes cobertos ou prestes a serem cobertos por Pinus, não importando a declividade do terreno (juro que vi morros com mais de 60° de inclinação cobertos de Pinus EM CARREIRINHA!!!).

Trecho representativo da 476 - curvas ondulando em meio a morros, com asfalto perfeito e pouco trânsito.





Em Adrianópolis-PR, cidade irmã de Ribeira-SP, o povo é muito hospitaleiro, e todos saem a caminhar de noite na praça, as meninas são simpáticas e puxam assunto, além de terem a pele bem morena e traços mestiços realmente bonitos.



No outro dia, um calorão dos infernos, fui pedalando pela margem paranaense do Ribeira, passando por uma mina de chumbo, vendo as casinhas bucólicas, passando por uma balsa, depois subindo uma serra animal, por onde passa um teleférico quilométrico transportando caçambas de calcáreo de uma mina (que domina o enorme topo de um morro) até a fábrica em Apiaí.









Lá também tem morros com Pinus e gado, pelo jeito o gado lá faz montanhismo, porque é de chocar um gaúcho acostumado a coxilhas ver o gado trepado em verdadeiras montanhas. Depois da serra, um caminho de terra e subitamente uma descida, uma subida, rodeado de mata fechada, algumas curvas e rios, e de repente um trecho de concreto, serpenteando pela encosta de um morro, com penhascos de mais de 300m de queda praticamente livre, e paredões e ravinas cobertos pela exuberante floresta tropical umbrófila, ou mata atlântica.



Descendo pela estreita estrada (que a mata não escondia esforços para tomar de volta), passei por um aterro de material tóxico da mineração de chumbo, e "casualmente" acima do aterro havia um desmoronamento de um barranco com uns 80m de altura... Uma pena isso.



Fiquei na pousada da Idati, no bairro da Serra, a 13km de Iporanga.

No outro dia, acordei tarde e fui fazer um passeio guiado. Primeira parada, uma gruta com uma entrada estreita, e uma caminhada de algumas centenas de metros, seguindo um rio subterrâneo, até uma cachoeira. Vários trechos se esgueirando por entre pedras onduladas, com marcas de desgaste provocado pela água, assim como formações de estalactites e cortinas calcáreas, muito interessante, emocionante mesmo.






Depois, fomos para uma outra caverna, com uma entrada enorme, e depois passamos por dentro do rio subterrâneo, com água pelo peito, desviando a cabeça das estalactites, algo não recomendado para quem tem claustrofobia.

Esse é o filho da Dona Idati e do Seu Alaor. Esqueci o nome dele,
mas foi um excelente guia, grande companhia, recomendo muito!


Por último, fomos pelo rio Bethary (o principal do lugar), com bóias, em direção a umas cachoeiras, mas acabou escurecendo antes e ficou pra outra oportunidade. Só o fato de estar deitado na bóia, repousando e vendo as folhas passarem na margem, foi impagável. Dormi cedo, pois estava podre de cansado, e comi frango com batata, que amassei, delicioso, tinha feijão tb, mas minhas tripas estavam reviradas. Dormi às nove e acordei para ligar o ventilador sentindo um pouco de febre.

No outro dia (hoje, sábado), acordei podre, moído, indo insistentemente ao banheiro para eliminar o conteúdo intestinal contaminado, sendo que ao meio-dia já estava melhor, mas não muito melhor. Tomei café da manhã e me mandei com chuva e tudo, até Iporanga, por uma estrada de chão costeando o rio, só esse trecho já foi um atrativo à parte. Vale ressaltar que toda a minha estada no Alto Ribeira foi sonorizada pela araponga, um pássaro que fica fazendo "téin, téin", parece um martelo numa bigorna, é o dia todo isso, dá vontade de estrangular o bicho, mas não vi nenhuma, só ouvi, e como ouvi. De Iporanga até Eldorado, é um asfalto estreito, costeando o Rio Ribeira, cujas encostas são cobertas pelos floridos ipês-amarelos, e mais abaixo pelos gigantes bananais da região. São mais de 70km de estrada bonita, mas praticamente igual, chegando a ficar monótona no fim. Mesmo assim, vale o trecho.
Agora, estou na LAN, depois de tomar banho no hotel. Saindo daqui, vou jantar. Eldorado é uma cidade pequena, mas já não é tão simpática e receptiva como as outras lá pra cima.

Um abraço, e até mais!

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